Cotidiano

Façam as apostas

Durante a década de 1940, os cassinos atraiam frequentadores que iam jogar e assistir aos shows. Foi a época em que o glamour do Rio ganhou fama.

O Cassino do Hotel Quitandinha levava a Petrópolis visitantes, alavancado a atividade econômica da cidade, assim como ocorria, por exemplo, em Poços de Caldas e Lambari. Enquanto ajudava a construir a imagem turística do país, o jogo era responsável por 40 mil empregos diretos, quando a população brasileira era de cerca de 40 milhões de pessoas. A partir de 1946, com a proibição dos chamados jogos de azar, o Brasil viu desaparecerem não apenas esses postos de trabalho, como também muitos outros indiretos. Vale lembrar que o país tinha, então, setenta cassinos em funcionamento.

É preciso, entretanto, não perdermos de vista o contexto histórico dos anos 40, marcados pelo moralismo, com o Estado sendo um orientador dos costumes.

Hoje, quase 70 anos depois, essa proibição não faz mais qualquer sentido. Abrir mão do jogo é abrir mão de um excelente instrumento de progresso. Para que possamos quantificar a nossa perda, vale registrar que o Uruguai inaugurou em Rivera um novo cassino, com investimento de US$ 33 milhões, expandindo seu potencial turístico. Só na última alta temporada nosso vizinho arrecadou US$ 5 milhões em impostos oriundos do jogo. Enquanto isso, o Brasil recebe apenas 6 milhões de turistas, número bem abaixo do seu potencial. Em Las Vegas, então, os números são estratosféricos. São milhares de visitantes anuais, com um faturamento anual de bilhões de dólares.

Os críticos da liberação argumentam que o jogo favorece a lavagem de dinheiro e o crime organizado. Curiosamente, esses são problemas que, mesmo sem a liberação, vemos todos os dias nas páginas dos nossos jornais. Aliás, usando mais uma vez o Uruguai como exemplo, lá as estatísticas de criminalidade são bem menores do que as nossas. Aqui, temos um Estado paternalista, querendo nos conduzir.

Com uma taxa de desemprego de 10,2% da população ativa, não podemos nos dar ao luxo de abrir mão do jogo. A vocação turística de vários estados do Brasil facilitaria, a curto prazo, a chegada de investimentos, a construção de hotéis, ou seja, o início de um ciclo virtuoso.

O que estamos esperando? A cada ano perdemos milhões de empregos em nome de um preconceito sem sentido. Em pleno século 21, já é mais do que hora de deixarmos para trás os anos 40, pois o futuro não perdoa quem não reconhece o momento de mudar.

Pedro Fernandes é deputado estadual (PMDB) e presidente da Comissão de Orçamento da Alerj