Cotidiano

Esquecidos pelo chavismo, moradores de arquipélago paradisíaco se rebelam

LosRoques1.jpgCARACAS – Nem mesmo o ?paraíso? venezuelano escapa imune da maior crise econômica, política e social de sua História recente. A meia hora de Caracas, o arquipélago de Los Roques, nas Antilhas, tem um atol de areias brancas, barreiras naturais e recifes de coral não tem ruídos, ônibus, carros e tampouco a violência do continente. Mas o milagre da natureza foi tão esquecido pela revolução bolivariana, apesar dos folhetos publicitários, que seus 2 mil habitantes se viram obrigados a se rebelar contra o governante escolhido por Caracas para administrar seu destino.

Todos juntos invadiram durante três dias a pista de aterrissagem do aeroporto local para exigir ao governo água potável, alimentos, remédios, melhora do sistema elétrico e a finalização de sete obras incompletas, entre elas a própria sala de espera do aeroporto. Entre os problemas, também figuram a ausência de caixas para depositar lixo ou a proliferação de cachorros de rua.

? Los Roques é um paraíso e queremos que continue assim ? disse ao ?La Nación uma das líderes do protesto, sob anonimato para evitar represálias. ? Nos pressionaram, fizeram terror psicológico. Queriam saber quem eram os líderes que tomaram a pista ? afirmou ela, que relatou ter encarado na rebelião o almirante Jairo Avendaño, chefe de governo do território.

Info-protesto arquipélago los roques

De maneira ousada, os roquenhos encararam militares durante seu protesto, inclusive tendo oferecido ao delegado de governo um copo d?água: não se tratava apenas de saciar sua sede, mas também de comprovar a sujeira da água que é transportada de até o arquipélago. Nos últimos quatro meses, a planta dessalinizadora não tem funcionado.

? Lamentavelmente, não contamos com medicamentos. Que está sendo sequestrado? Nós ? gritou durante um protesto uma das líderes do movimento, em frente ao próprio Avendaño. O momento foi flagrado em vídeo e se tornou viral.

Outra dirigente diz que ?quer virar um avestruz? para esconder a cabeça na terra quando um turista chega ?neste povoado em decadência total?.

Protesto Los Roques

Nas negociações, o comandante foi forçado a se instalar na ilha principal do arquipélago por duas semanas. Mas, até agora, a administração do local é desempenhada com burocracia: passa por 12 ministérios até ser executada, dizem os moradores.

A rebelião já deixou frutos: um barco trouxe alimentos que estavam em falta nas prateleiras e a planta de água potável começou a funcionar na semana passada. Sacos de comida chegam com a sigla dos Clap (comitês locais de abastecimento), política do presidente Nicolás Maduro para combater a escassez seguindo a fórmula do racionamento cubano.

? Nos fizemos ser ouvidos, e nosso protesto chegou aonde queríamos: às mais altas instâncias do país e aos turistas estrangeiros, que nos apoiaram ? diz outra das líderes dos protestos.

Os turistas que continuam a visitar, por sua vez, reconhecem que mesmo com as carências e dificuldades não deixam de se surpreender com tanta beleza.

? É um paraíso que não consigo comparar com nada que já tenha visto até agora ? disse Flavia Traba, professora e tradutora de inglês de Buenos Aires.

? Você entra na água, rodeado de peixinhos. É como ver um canal de TV ? sentenciou Lucas Ferrari, estudante de Direito.2015-822181465-20150604091002239rts.jpg_20150604.jpg