SÃO PAULO- Prestes a ser indicado para o comando da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo Roberto Allegretti é um dos escudeiros do ministro da Justiça Alexandre de Moraes, para quem voltará a trabalhar.
O caminho dos dois se cruzou em 2002: Allegretti, que fez carreira na Polícia Militar, era o secretário da Casa Militar do Governo de São Paulo quando o jovem Alexandre de Moraes deixou o Ministério Público e assumiu a Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania no governo Alckmin. Seis anos depois, na Prefeitura de São Paulo, Moraes assumiu a secretaria de Transportes e indicou o coronel para comandar o Departamento de Transportes Públicos da cidade. Em 2009, foi a vez de Allegretti assumir a diretoria de Administração e Finanças da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da cidade. Deixou a função quando Moraes rompeu com o prefeito Gilberto Kassab e deixou o governo. O atual ministro da Justiça também atuou como advogado de Allegretti.
Dentro da corporação, o coronel é visto como um policial sério, de pouco riso, mas sereno, distante do setor linha-dura da Polícia Militar.
– Nunca compactuou com a polícia mais repressiva. É completamente diferente do perfil, do preconceito ou dos estereótipos – afirmou José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública no governo Fernando Henrique e ex-professor de Allegretti na Acadamia da Polícia Militar.
Até mesmo especialistas da área, como Leonardo Pinho, diretor da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e do Conselho Nacional de Direitos Humanos, afirmam que Allegretti tem um perfil de diálogo. Formado em psicologia, no entanto, o coronel não tem uma trajetória ligada à política de drogas, mas um perfil burocrático. Na Polícia Militar, chegou à secretaria da Casa Militar após ser chefe de gabinete do comandante-geral.
Após deixar a corporação, assumiu a presidência da Associação Fundo de Auxílio Mútuo dos Militares do Estado de São Paulo (Afam) em 2007, cargo que ocupa até hoje. Sem fins lucrativos, o fundo presta aos associados, policiais na reserva ou na ativa, serviços nas áreas educacional, de saúde e jurídica.
– Ele é daquele setor que propõe diálogo, reconhece os direitos humanos, mas o problema é que ele é um coronel. É a visão de que os órgãos de segurança pública devem dar as diretrizes da política de drogas – afirmou Leonardo Pinho. Em seu congresso, a Abrasme que lançou uma moção de repúdio à nomeação de Allegretti. Uma petição na internet conta com mais de 700 assinaturas contrárias à indicação.
Segundo Pinho, a tendência internacional da área são campanhas de redução de danos e a promoção de direitos aos usuários abusivos, como saúde e trabalho. Entre as políticas de sucesso, cita o programa Braços Abertos, da Prefeitura de São Paulo e liderado pela secretária de Assistência Social da cidade, Luciana Temer, filha do presidente interino. A nomeação de Allegretti iria na contra-mão dessa tendência, segundo Pinho.
– O governo vai entrar na contra-mão de uma política que vem dando certo. Não quer dizer que não tenha erros, mas que sinalizou que deu certo. Hoje, o índice de adesão ao tratamento é de mais de 70%. Isso, em política de drogas, é um sucesso absoluto.