RIO ? As notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de
2015 por escolas, divulgadas ontem pelo Ministério da Educação (MEC), consolidam
uma tendência: a maioria dos colégios com as melhores médias nas provas
objetivas têm como prioridade a preparação para o vestibular. São instituições
de ensino com poucos alunos ? muitos oriundos de outras escolas ?, que são
treinados ao longo de um ano para ter bom desempenho em provas como o Enem. Por
outro lado, escolas tradicionais com projetos educativos amplos, que priorizam
vários aspectos além da aprovação no vestibular, vêm perdendo ?posições? no
Enem, algo que ficou claro com os dados publicados ontem. E, ao contrário da
edição anterior, desta vez o Rio não tem nenhuma escola entre as 10 melhores.
Enem 2015 – Rio
CONSULTE AQUI A COLOCAÇÃO DA SUA ESCOLA
De acordo com especialistas, o ranking não pode ser
visto como único critério para considerar a qualidade de uma escola. Para eles,
a lista não é capaz de mensurar o ensino transmitido pelas instituições e
estabelecer uma comparação justa entre elas. Os dados do Enem por escolas são
divulgados anualmente e, nesta edição, trouxeram as médias das provas objetivas
e da nota de Redação de 1,2 milhão de alunos de 14.998 escolas públicas e
privadas do país. Para participar do levantamento, é necessário que pelo menos
metade dos alunos matriculados no terceiro ano do ensino médio da instituição
tenham participado do exame. A escola deve ter, no mínimo, 10 alunos que fizeram
a prova.
A participação do Rio na lista das 20 unidades de ensino
com as melhores notas nas provas de múltipla escolha do exame caiu mais uma vez.
O estado tem, hoje, três colégios entre os 20 primeiros do país, sendo que o
melhor colocado, o Colégio Ipiranga, em Petrópolis, está na 12ª colocação. O
Pensi de Niterói ocupa a 18ª posição. Colégios de
referência como São Bento, Cruzeiro e Santo Agostinho não aparecem nessa
relação. Única escola carioca nesse grupo, o Sistema Elite de Ensino de
Madureira, com a 20ª melhor nota do país, é um exemplo de instituição que
concentra todos os esforços em obter bons resultados no Enem.
ROTINA DE SIMULADOS
Os estudantes do terceiro ano do ensino médio têm uma
rotina sistemática de simulados a cada 15 dias e, ao longo do ano, fazem provas
reproduzindo o modelo do exame. O desempenho nessas avaliações é usado pela
escola para constituir um ranking dos melhores alunos, que ganham como
gratificação o acesso a uma aula extra aos domingos ? a lista de estudantes é
renovada a cada prova.
? Essa turma tem um trabalho diferenciado. São alunos
que além do Enem visam a outros concursos ? afirmou a diretora de ensino do
Elite, Ana Paula Mello.
O Elite também se caracteriza por um índice de permanência de alunos abaixo
de 20%. Isso significa que 80% dos estudantes da instituição que fizeram o exame
não cursaram todo o ensino médio naquela escola. Esse é, aliás, o padrão de seis
das 10 melhores colocadas no ranking, indicando que muitos alunos migram para
essas instituições em busca da preparação para o vestibular.
Outro aspecto da escola é o baixo número de alunos
participantes do Enem em 2015. Segundo o MEC, apenas 19 estudantes prestaram a
prova. Das 20 primeiras posições no ranking, 12 são ocupadas por escolas que têm
entre 1 e 60 alunos participantes do Enem. É o caso do Colégio Objetivo
Integrado, de São Paulo, campeão no índice de desempenho no Enem 2015. Os dados
do MEC mostram que somente 41 alunos estão matriculados no terceiro ano do
ensino médio e todos fizeram a prova. Esse é o sétimo ano que a instituição
ocupa o primeiro lugar. Contrariando as críticas de que o colégio selecionaria
os melhores alunos para compor sua turma de terceiro ano ? pinçando em outra
unidade da rede ?, o que consequentemente resultaria nos bons resultados , a
coordenadora pedagógica da instituição, Vera Lúcia da Costa Antunes argumenta
que os estudantes mais interessados buscam o Objetivo por conhecerem seu
método:
? Não é qualquer aluno que consegue cursar a escola, tem
que ter vontade de aprender e aprofundar o conhecimento. Esse aluno procura o
Integrado, não somos nós que vamos atrás dele.
CONCORRÊNCIA DESIGUAL
Em uma realidade oposta, com grande número de alunos,
índice de permanência de 80% ou mais e proposta pedagógica mais abrangente, os
colégios São Bento (28ª) , Santo Agostinho (32ª) e Santo Inácio (42ª) se
distanciaram dos primeiros colocados. No caso do São Bento, que sempre esteve no
topo do ranking, as notas caíram gradativamente desde 2012, passando de 712,8
naquele ano para 693,8 em 2015. As notas do Santo Agostinho oscilaram durante
esse período, e o Santo Inácio também registrou pequena queda, indo de 689,45 em
2013 para 684,4 no ano passado (a nota de 2012 não foi divulgada).
? Uma das hipóteses é que essas escolas têm um ensino
mais humanista, não focam exclusivamente em uma preparação para o Enem. Eles
podem não estar tão bem preparados para o Enem, mas para outras áreas que o
exame não avalia ? afirma a educadora Andrea Ramal.
O coordenador Pedagógico do Santo Agostinho, Evaldo Palatinsky argumenta que a concorrência com os que
estão no topo do ranking é desigual:
? Buscamos formação integral, além do academicismo e do
conteúdo. Nesse ano colocamos quase 200 alunos para fazer o Enem, não podemos
ser comparados com uma turma de 12 alunos.
Em artigo originalmente publicado no site da Associação de Jornalistas de
Educação(Jeduca), o
presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE),
Francisco Soares criticou a lista:
?O ranking do Enem simplesmente consagra as escolas que
fazem seleção de seus alunos. Entre as melhores classificadas, um primeiro fato
a considerar é que as privadas selecionam primeiro seus alunos pela renda e
também pelo desempenho em provas. As escolas públicas que estão nas melhores
colocações são também aquelas que admitem seus alunos através de difíceis
vestibulares?.