Cotidiano

Entre escolhadas ousadas e previsíveis, Oscar indica atores negros e foge de polêmica

moonlight.jpgRIO – Olhando por alto, as indicações à 89ª edição do Oscar, anunciadas na manhã desta terça-feira, parecem não apresentar nenhuma grande surpresa. Afinal, “La la land: cantando estações”, “A chegada” e “Moonlight” emplacaram várias delas, o que já era esperado. Analisando mais de perto, no entanto, chama a atenção uma escolha histórica, ousada e corajosa da Academia: a animação “Kubo e as cordas mágicas”, além de concorrer em sua categoria, disputa também à estatueta de melhor efeitos visuais, algo inédito para um filme do gênero. Será incrível quando a Academia reconhecer o trabalho de fotógrafos, diretores de arte e figurinistas em animações, mas já temos aqui um primeiro e importante passo que indica a existência de uma Academia mais liberal.

Aliás, neste ano, as críticas à ausência de atores negros entre os indicados não se aplicam. Estão na disputa o ator coadjuvante Mahershala Ali e a atriz coadjuvante Naomie Harris (ambos de “Moonlight”); e o ator Denzel Washington e a atriz Viola Davis (“Cercas”), entre outros. A primeira reação de algumas pessoas é pensar que essas indicações são uma reação da Academia ao movimento #OscarsSoWhite (Oscar muito branco, em tradução livre), polêmica que atingiu a entidade nas duas últimas edições. É mais provável, no entanto, que a reação tenha vindo da própria indústria de Hollywood: em tese, ambos os filmes não estão concorrendo ao Oscar por condescendência da Academia, mas porque são bons e contam com interpretações memoráveis. Será que o mercado de cinema está começando a apreciar mais a diversidade? Tomara que sim.

Foram nove títulos escolhidos para disputar a estatueta de melhor filme (o limite é de dez). Não há nenhum susto entre os selecionados, mas é sempre bom celebrar a presença de uma ficção científica ? no caso, “A chegada”, de Denis Villeneuve. Filmes de gênero não costumam ganhar tanta atenção nas categorias consideradas mais importantes. Por outro lado, reside aí justamente uma decepção: a ausência do irreverente “Deadpool”. Com indicações aos prêmios dos sindicatos dos atores, roteiristas e diretores (uma combinação que, historicamente, praticamente garante uma indicação ao prêmio máximo), o longa de super-herói ficou completamente de fora do Oscar 2017.

Mas, afinal, quem é o franco favorito ao troféu de melhor filme? Pode-se pensar que é “La la land”, afinal, o musical emplacou o número recorde de 14 indicações (num empate apenas com “Titanic”, de 1997, e “A malvada”, de 1950). Mas “La la land” é um superfilme de US$ 30 milhões, com atores queridinhos (Ryan Gosling e Emma Stone) e uma produção complexa o suficiente para abocanhar indicações em categorias técnicas. Feito impressionante vem de “Moonlight”, um drama indie de apenas US$ 5 milhões que disputa oito estatuetas. Além disso, “Moonlight”, sobre a jornada de um homem negro e gay em três etapas de sua vida, é o filme que mais arrecadou láureas na temporada atual de premiações (quase 100, até agora), a maioria vindas de associações de críticos, como Los Angeles, Boston e Nova York, para citar algumas das mais relevantes ? sem contar o fato de ter levado o Globo de Ouro de melhor filme dramático. Claro, ainda é cedo para cravar quem deve levar o Oscar, mas já é possível dizer que “Moonlight” é a pedra no sapato de “La la land”.

O anúncio dos indicados foi feito na manhã desta terça-feira, numa transmissão on-line e sem a presença de jornalistas ou agentes da indústria ? uma quebra de tradição sem muita explicação. E os vencedores serão anunciados na cerimônia, em 26 de fevereiro.