PARATY – Mediada pelo jornalista Daniel Benevides, a mesa “Sexografias”, com a escritora paulistana Juliana Frank e a jornalista peruana Gabriela Wiener prometia ser uma das mais quentes da Flip. Mas acabou convertendo-se na mais confusa. Juliana passou todo o debate oscilando entre encarnar uma personagem – deu gritinhos, fez pausas longas, mostrou a calcinha – e falar sério sobre seus livros. Já Gabriela, que conseguiu falar mais sobre seu processo criativo, passou por uma saia-justa por parte do mediador, que, ao chamá-la de “devassa”, e dizer, ironicamente, “que ela nao era de família”, foi mal-recebido pela autora, logo no inicio do debate:
? Ele está me chamando de tarada? Tarada em espanhol é idiota. Eu sou de familia, como nao sou? É justamente por ser de familia que saio por ai, tenho muito orgulho da minha vida ? respondeu, sob aplausos da plateia.
O mediador explicou-se, esclarecendo ter sido uma ironia, mas passou por mais bocados ao tentar conduzir a mesa, que por muitas vezes pareceu confusa diante dos arroubos de Juliana.
As autoras, que exploram a sexualidade na literatura de maneiras distintas, e de certa forma complementares (se Juliana dá voz a personagens sempre enredadas em nervosas tramas sexuais, Gabriela explora o submundo do sexo em suas reportagens temáticas), começaram o debate de maneira tensa. Ao ser apresentada pelo mediador como autora de literatura erótica, Juliana Frank o interrompeu:
? Não, quem está aqui não sou eu. E você errou: não é erótica, é errática ? disse Juliana, muito à vontade na cadeira, filmando a plateia do celular.
Nas preliminares do debate, duas atrizes foram chamadas ao palco para ler trechos dos livros das duas, em trechos alternados, como numa peça de teatro: “Sexografias”, de Gabriela, e “Uísque e vergonha”, de Juliana.
? Por que eu quis escrever sobre sexo? Eu acho que escrever é sempre sobre sexo. Como eu li “Edipo Rei” quando criança, eu escrevo sobre isso. A pornorafia é marginal e foi desmarginalizada, é o que estamos fazendo aqui hoje, desmarginalizando-a ? disse Juliana, que, entre risos nervosos e pequenos gritos, parecia começar a encarnar um personagem.
Gabriela foi além:
? Na minha infancia, fui criada numa família muito de esquerda, e a palavra erotismo, o tema erotismo sempre foi muito pobremente discutido. E fui percebendo que gostava de meninos e meninas, e ficava com um, dois, e isso me parecia muito natural. Sempre fui depravada. O meu livro fala de outros corpos possiveis, de outras realidades possiveis.
Questionada sobre inicio da escrita, se foi na infância, Juliana brincou, dizendo ser “uma estrela”, que nao teria tido infância:
? Minha mãe diz que eu tinha um problema com a fala quando criança, acho que até hoje eu escrevo porque não sei falar, por isso estou falando aqui assim, desse jeito. Eu li muitos góticos. E assim comecei a organizar meus segredos, pela forma escrita ? disse ela, entre risos nervosos.
O mediador retomou a conversa, perguntando sobre como se dá o processo de criação de Juliana.
? É muito confuso o meu processo para contar. Manipulo o acaso, acho que todos estamos sujeitos a passar por essa doença. Aprendi a tentar, pelo menos ? contou Juliana, sobre a experiência que investiu para um romance em que se propôs a sair com um homem por dia, pouco antes de levantar o vestido e mostrar a calcinha, que disse ser a cueca de um dos homens que conheceu. ? Eu queria encontrar o Cortázar sem ler o Cortázar, eu buscava o Cortázar nos homens e nas verduras, e no metrô, e no ônibus. Aí aconteceu algo que eu não queria: no quinto dia inútil, eu me casei. Eu sou romancista, sou romântica.
Diante de uma plateia que se dividiu entre os que riam e os que deixavam a Tenda dos Autores, Gabriela contou como a experiência pessoal de viver com um casal, o marido e a namorada, na mesma casa, era uma ideologia.
? O homem tentou se enquadrar neste sistema de duas pessoas, e é mentiroso, nunca é verdade, são sempre duas, três, ou quatro. Eu tambem tenho medos.