Cotidiano

Em estratégia para conter transmissão, governo estende a meninos vacinação contra HPV

2016_903480801-2016_902850546-201604141334163149.jpg_20160414.jpg_201604_-2-.jpg RIO- Metade dos homens do planeta está infectada pelo vírus do papiloma humano (HPV) ? ainda que muitos não apresentem sintomas. A estimativa, combinada com a projeção de que entre 25% e 50% da população feminina mundial também carregam o vilão, traça um panorama preocupante a respeito da circulação de uma doença sexualmente transmissível (DST) que está na origem de diferentes tipos de cânceres. Diante disto, a vacina contra o HPV, antes prioritariamente destinada às meninas, passa a alcançar, aos poucos, os meninos. Ontem, o Brasil entrou num grupo de agora sete países que estenderam a prevenção para a população masculina na tentativa de diminuir a presença do microrganismo que infecta, por ano, 685,4 mil brasileiros sexualmente ativos. A partir de agora, meninos de 12 e 13 anos já podem ser vacinados nos postos de saúde. Até 2020, a cobertura chegará à faixa etária de 9 a 13 anos. HPV

A ampliação da vacinação para ambos os gêneros segue recomendações de organizações médicas brasileiras e, recentemente, da Sociedade Americana de Câncer, referência nessa área. A meta do país é imunizar 3,6 milhões de meninos em 2017. A vacina já vinha sendo fornecida a meninas de 9 a 13 anos desde 2014 ? alcançando, porém, apenas 46% do público alvo. Junto com a inclusão dos rapazes, o Ministério da Saúde anunciou que as brasileiras de 14 anos ainda não imunizadas (cerca de 500 mil) também já podem pedir a vacina nos postos de saúde.

O medicamento também foi disponibilizado para as 99,5 mil pessoas de 9 a 26 anos vivendo com HIV. Enquanto meninos e meninas em geral só precisam de duas doses da vacina, os soropositivos devem receber três doses.

O HPV está relacionado a diversos tumores, como o câncer no colo do útero, que mata 265 mil mulheres no mundo por ano, e os de garganta e boca, que levam a 230 mil mortes.

? A imunização para os meninos possibilita a prevenção de vários tipos de cânceres e verrugas, além de dar uma segunda oportunidade para que a mulher seja protegida também, uma vez que é geralmente o homem que a contamina. Mas temos aí o grande desafio de levar os adolescentes para a vacinação, o que é uma dificuldade no mundo inteiro ? pondera a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Carla Domingues.

A meta da pasta é que a cobertura da imunização para meninos e meninas chegue a 80% do público alvo ? em diversos países, assim como no Brasil, a parcela não chega a 50%. A pouca adesão, segundo especialistas, é reflexo de uma mistura de resistência dos próprios adolescentes, desinformação e tabus acerca da sexualidade e do câncer.

No entanto, a eficácia da vacina já foi comprovada por estudos internacionais. Nos Estados Unidos, uma pesquisa publicada pela revista científica ?Pediatrics? em fevereiro de 2016 comparou a prevalência de HPV antes e depois da introdução da vacina. A análise constatou que, seis anos após a o início da imunização, a prevalência do HPV caiu 64% entre as mulheres de 14 a 19 anos e 34% entre as de 20 e 24. anos. Segundo o Ministério da Saúde, a vacina oferecida no Brasil tem eficácia de 98% quando seguida corretamente.

Mesmo com os resultados positivos em todo o mundo, ainda é difícil conseguir a adesão da população. Segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, um dos motivos para essa ralidade é a faixa etária para qual é destinada.

? Diferentemente das crianças, que os pais levam para cumprir o calendário rigorosamente, convencer adolescente não é tarefa fácil. O Brasil não é único exemplo disso, acontece também em outros países. A nossa cobertura está no mínimo igual ao que vemos em outros países ? garante Kfouri.

Na opinião da médica Cláudia Jacyntho, PhD em ginecologia pela Unicamp, outro obstáculos são os boatos disseminados pela internet e o preconceito:

? A veiculação de exageros em relação aos efeitos colaterais da vacina fez com que nossas meninas fossem pouco vacinadas. Além disso, grupos religiosos diziam que vacinar contra o vírus, que é muito transmitido pela a via sexual, estava estimulando o sexo precoce.

Para Jacyntho, além do impacto positivo na saúde da população, a expansão da vacinação para o público masculino também terá efeito sobre os cofres públicos.

? Se alcançarmos o objetivo de vacinar mais de 70% da população masculina, o impacto na saúde publica será muito positivo. Diminuirá o custo com tratamento de cânceres no futuro, além do gasto com o tratamento de verrugas genitais, que, embora não sejam graves, acabam gerando uma grande despesa? afirmou.