BRASÍLIA ? A descontração marcou o depoimento do deputado Paulo Maluf (PP-SP), nesta quarta-feira, na ação penal em que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por falsidade ideológica. Bem humorado, ele até começou a cantarolar a música que embalou a seleção brasileira de futebol em 1970, mas errou a letra. Destacou também que nunca procurou financiadores de campanha e que, ao longo da sua vida pública, jamais empregou parentes. E, como costuma fazer nos outros processos em que é investigado, negou todas as acusações.
Maluf foi ouvido pelo juiz instrutor Mário Augusto Figueiredo de Lacerda Guerreiro, que auxilia o relator da ação, o ministro do STF Luiz Fux. O deputado é suspeito de ter omitido na prestação de contas da campanha de 2010 R$ 168 mil doados pela empresa Eucatex, de propriedade da sua família. O depoimento durou menos de 17 minutos.
Maluf negou ter ingerência nas contas de sua campanha. Segundo ele, quem tratava disso era a comissão financeira eleitoral registrada junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo. O deputado disse inclusive que nunca procurou financiadores de campanha.
? Não é comum os candidatos procurarem financiadores para sua campanhas? ? perguntou o juiz.
? Eu nunca procurei ninguém ? respondeu Maluf.
? O partido então é que captava? ? indagou novamente o juiz.
? O partido com certeza deve ter procurado alguém ? disse Maluf.
? O senhor não tinha ingerência nem na captação nem no uso dos recursos? ? insistiu o magistrado.
? Nada ? limitou-se a dizer o deputado.
O humor de Maluf no depoimento foi compartilhado pelo juiz instrutor. Em determinado momento, o deputado disse que o candidato normalmente não fica no diretório nem faz a contabilidade, em razão dos vários compromissos de campanha.
? Eu vou para comícios, eu vou para feiras livres, vou para supermercados, vou para programas de rádio, programas de televisão. A gente normalmente sai de casa às 7h da manhã e olha lá quando pode chegar em casa às 23h, meia-noite. São Paulo tem 645 municípios. Se a gente visita cinco por dia, demora de três a quatro meses para visitar todo o estado. É uma loucura ? disse Maluf
? Eu visitei algumas inquirindo as testemunhas que o senhor arrolou em Bauru, Sorocaba. Conheci um pouco o interior de São Paulo ? devolveu o juiz.
? Nem sei quanto gastei de gasolina no automóvel, nem sei quanto custou o comício ? completou o deputado.
Maluf e seu filho Flávio Maluf já ficaram 40 dias presos em 2005. Questionado pelo juiz se ele já tinha sido detido, o deputado disse que não foi preso, mas solto pelo STF, uma vez que a prisão foi ilegal. E ainda ressaltou um diferencial na sua carreira política.
? Eu tenho aqui na vida pública um pequeno ressentimento: prenderam meu filho. E eu, Paulo Salim Maluf, não tenho nenhum histórico de ter nomeado nenhum parente, nem meu irmão, nem meus cunhados, nem meus sobrinhos, nunca. Meu filho nunca exerceu papel público ? afirmou Maluf.
Em seguida, o juiz perguntou se ele foi condenado. Maluf disse que não, mas depois emendou:
? Uma vez, veja, Vossa Excelência, eu resolvi dar um fusquinha… ? disse ele, numa referência aos veículos dados aos jogadores tricampeões mundiais com a seleção brasileira em 1970.
O juiz quis saber para quem era o fusca.
? Da Copa de 70. Da Copa que dizia “Brasil, 70 milhões em ação”. Hoje nós temos 204 (milhões) ? respondeu o deputado, cantarolando a música que dizia, na verdade “90 milhões em ação”.