BOGOTÁ ? Numa decisão inédita, o Estado colombiano pediu perdão por seu papel nos massacres de ativistas de esquerda do partido União Patriótica (UP), nos anos 1980. O presidente Juan Manuel Santos disse se comprometer para que o país nunca mais deixe repetir as mortes de cidadãos por motivos políticos. Cerca de 3.000 membros da agremiação foram mortos, segundo estimativas.
? O Estado não tomou medidas suficientes para prevenir os assesinatos, atentados e as demais violações, apesar das evidências de que essa perseguição ocorria ? disse Santos em uma cerimônia solene no Palácio de Nariño, sede do governo. ? Essa tragédia nunca deveria ter acontecido. farc
O evento teve a participação de pelo menos 200 sobreviventes e parentes das vítimas da UP, assassinadas principalmente por paramilitares de extrema-direita durante o auge da violência no país. Esta é a primeira vez que o Estado reconhece que os massacres, que são tratados como um genocídio, poderiam ter sido prevenidos.
De acordo com Santos, a decisão de reconhecer a conivência do Estado com as mortes dos ativistas da UP e de dois candidatos presidenciais dela ? Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa ? vem nas rédeas do acordo de paz alcançado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A UP foi uma agremiação ligada às Farc e a outras guerrilhas de esquerda, a favor da participação política democrática nas instituições colombianas, e acabou praticamente desmobilizada depois dos massacres.
Santos relatou temores de que, com a integração das Farc na sociedade civil e na política depois de uma eventual ratificação do pacto, novos ataques de radicais contra pessoas ligadas ao movimento eleitoral da guerrilha possam evoluir para um “banho de sangue”.
? Ressaltamos este compromisso para assegurar que ninguém que participe da política seja vítima das armas.
Santos, um ex-ministro do governo de direita de Álvaro Uribe ? simpático às organizações paramilitares ?, tem se destacado no cenário internacional pela ação de negociar uma saída pacífica para os mais de 50 anos de guerra com as Farc. Ele foi saudado pela nova decisão.
? Este ato constitui uma esperança de resposta às reclamações que durante mais de 20 anos fizemos diante de instâncias nacionais e internacionais ? disse Aída Avella, presidente da UP e que viveu no exílio por mais de dez anos. ? Pedimos ao presidente que faça esse reconhecimento diante da Comissão Interamericana de Direitos Humanos para garantir a reparação integral necessária. A UP tem um compromisso de honra de apoiar massivamente a paz neste 2 de outubro (data do plebiscito para selar a paz com as Farc). Vítimas das Farc defendem referendo