Cotidiano

Diretores de diferentes nacionalidades e gerações explicam o papel do cinema em suas vidas

63639391_SC - Imagens da série Janelas abertas do Canal Brasil.jpgRIO – Terry Gilliam, o cineasta inglês que tem ?Brazil ? o filme? (1985), ?Os 12 macacos? (1995) e vários esquetes do Monty Python no currículo, cita ?A branca de neve? e ?Pinóquio?, da Disney, como suas primeiras memórias audiovisuais. Mas o filme que o acompanhou por muito tempo foi a refilmagem de ?O ladrão de Badgá?, dirigida por Michael Powell em 1940 (o original, mudo, é de 1924). ?Eu acordava no meio da noite ou no meio da manhã completamente enrolado em minhas cobertas como se estivesse preso na teia da aranha. Os filmes podem ser lindos sonhos ou pesadelos terríveis.? Links_TV_domingo_08_01

Sonhos e pesadelos cinematográficos pairam sobre esta e outras entrevistas de ?Janelas abertas?, série que estreia hoje, às 21h30m ? e será exibida sempre aos domingos ? no Canal Brasil. São 15 diretores e uma pergunta: ?O que é o cinema??. Com essa premissa, o brasileiro Felipe Nepomuceno (que dirige programas como ?Sangue latino?, também no Canal Brasil) e o argentino Pablo Giorgelli (do filme ?Las acacias?, de 2013), abordaram cineastas de nacionalidades, continentes e gerações diferentes.

O projeto nasceu da amizade entre os dois diretores, aliada ao desejo da dupla de produzir algo calcado no ofício de diretores consagrados. E, diz Nepomuceno, foi muito além.

? O cinema é só um pretexto para as pessoas colocarem o mundo e o sentimento para fora. Quando indagamos o que é o cinema, perguntamos: ?Quem é você??. Essa é a resposta que eles dão, é a grande revelação da série ? analisa Nepomuceno.

Incumbidos de entrevistar grandes nomes da sétima arte, os dois foram até o Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha, em 2013. Com apoio da organização do evento, marcaram as entrevistas no hotel Maria Cristina, onde os diretores estavam hospedados. Além de Gilliam, deram depoimentos os mexicanos Alfonso Cuáron e Diego Luna, os argentinos Juan José Campanella e Sebastián Lelio, o japonês Hirokazu Koreeda, o chinês Jia Zhangke, o brasileiro Fernando Coimbra, o egípcio (radicado no Canadá) Atom Egoyan, os espanhóis Amat Escalante, Fernando Trueba e Santiago Segura, os americanos Todd Haynes e David Byrne e o francês Bertrand Tavernier. O material foi editado em Buenos Aires.

Todos os episódios começam com uma reflexão de cada um dos 15 sobre o que é o cinema. Discorrem, depois, sobre o que os levou à função de diretor e descrevem uma cena memorável. Ainda respondem a perguntas mais técnicas: são os responsáveis pela edição de seus filmes? Alguma vez já choraram durante as filmagens? Como definem o começo e o final de um plano?

Para tornar a conversa íntima, as entrevistas são sempre na língua do cineasta, quando necessário com ajuda de intérpretes.

? Eles estavam conversando com colegas e não com jornalistas. Assim, muito de cada um foi revelado. Isso leva a série para um outro lugar ? diz o diretor. ? Os cineastas se encontram muito em festivais, conversam e, muitas vezes, esses papos ficam por ali. E o que fazemos é revelá-los.

? Foi um grande aprendizado e um privilégio ? completa Giorgelli. ? Não é sempre que temos a oportunidade de conversar com diretores de cinema que admiramos. Foi quase como se tivéssemos assistido a pequenas Masterclass particulares sobre cinema. Um luxo!

Se a premissa é simples, o resultado muitas vezes mostra como é profunda a paixão dos profissionais por seus ofícios. No primeiro episódio, por exemplo, Alfonso Cuáron, diretor de ?Gravidade? (2013), faz questão de mostrar o diferencial da sétima arte: ?O cinema tem sua linguagem, não é um bastardo do teatro, da literatura ou da pintura?. Já Campanella, de ?O segredo dos seus olhos? (2009), sentencia: ?Cinema para mim é um meio, sem dúvida, não um fim?. Terry Gilliam chega a usar metáforas: ?As ideias começam a transbordar e eu quero mostrar um espelho diferente ao mundo?. E o japonês Hirokazu Koreeda, de ?Depois da tempestade? (2016), lança mão de linguagem poética para comparar o cinema a um rio: ?Uma história. Antiga. Profunda. Como a terra natal. É algo que me envolve, é algo que me protege?.