SÃO PAULO – O diretor-executivo do Banco Mundial, Otaviano Canuto, acredita que a principal consequência de uma administração Donald Trump para o Brasil virá da política monetária a ser adotada pelo Federal Reserve (Fed, o bc americano). Com promessas de maior investimento em infraestrutura e estímulo ao crescimento, a inflação americana pode crescer mais rápido que o esperado anteriormente e fazer com que o Fed seja menos gradualista em sua política de normalização monetária – a taxa está entre 0,25% a 0,5% ao ano e deve subir em dezembro.
Segundo Canuto, essa percepção de política monetária menos gradualista já pode ser vita na negociação dos títulos do Tesouro americano, que estão mais elevados e, assim, ficam mais atrativos para os investidores globais. Em contrapartida, fica menor o interesse em mercados emergentes como o Brasil.
? Esse movimento de saída exige atenção por parte das autoridades monetárias ? disse durante seminário da Acrefi, realizado em São Paulo, ressaltando que o Banco Central do Brasil teve uma reação adequada ao intervir no mercado de câmbio para conter a volatilidade causada por essa mudança de percepção global.
Canuto preferiu não opinar sobre quais podem ser os próximos passos da política monetária por parte do BC – a Selic começou a cair no mês passado, passando de 14,25% para 14% ao ano –, mas afirmou que o atual quadro econômico global torna ainda mais importante para o Brasil a execução do ajuste fiscal. Em termos comerciais, a preocupação deve seguir na China, que compra mais produtos do Brasil.
? A profundidade do ajuste fiscal se torna mais importante do que nunca. Os incentivos para fazer a coisa certa aumentaram ? avaliou.
Embora o efeito para o Brasil seja mais indireto, Canuto reforçou que outros emergentes podem ser mais afetados caso Trump adote medidas de fato protecionistas alardeadas durante a campanha. Entre essas economias ele citou o México e outros países que participam das cadeias globais das empresas americanas – quando cada item de um produto é feito em um local diferente, a partir da competitividade da indústria de cada país.