TIRADENTES (MG) – A expressão “Empoderamento feminino” entrou para o vocabulário popular mas precisa ainda entrar na cultura corporativa para ter real impacto no mundo, disse Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, ONG que atua no tema do consumo consciente. Em palestra na primeira edição do Fórum do Amanhã, realizado em Tiradentes (MG), Mattar defendeu a adoção do que chamou de espírito andrógeno nas organizações, uma igualdade numérica entre homens e mulheres que possibilitaria o reequilíbrio de características masculinas e femininas (como empatia e intuição) nas companhias.
– As empresas são os maiores centros de poder do mundo. Se a gente não empoderar as mulheres nas empresas, a gente não vai conseguir mudar o mundo. O poder das empresas determina os modos de viver no planeta. Nesse sentido, é fundamental o empoderamento da mulher – afirmou.
– Só vamos ter uma sociedade sustentável se tivermos equilíbrios entre o masculino e feminino. Antes de pensar em mim, eu tenho que pensar no outro. Isso é fundamental para chagarmos de fato à sustentabilidade.
Mattar disse que têm recomendado às companhias que estabeleçam o cargo de “Ombudswoman” para monitorar a adoção do empoderamento da mulheres dentro da organização.
– Sem ela (a ombuswoman) não vamos chegar ao real empoderamento dee valores femininos nas companhias – disse o diretor da Akatu, acrescentando que “o mercado de trabalho masculinizou as mulheres mais do que feminizou os homens porque a estrutura de poder masculina já estava lá.”
Mattar afirmou, porém, que não é recomendado que a quantidade de mulheres seja muito maior que 50% do quadro de funcionários:
– Não deve ser mais que isso. Caso contrário, as mulheres vão trepar em cima dos homens e não vão deixar que seus valores também espaço – brincou. – Na Akatu, a maioria das diretorias é ocupada por mulheres. Não vou ser cínico: eu não queria que fosse assim, preferia que fosse meio a meio. Mas o terceiro setor costuma atrair muito mais profissionais mulheres do que homens, então a seleção acaba contratando mais mulheres.
A jornalista e escritora Rosiska Darcy de Oliveira, que integra a Academia Brasileira de Letras (ABL) e é uma estudiosa do feminismo destacou que a entrada das mulheres no mercado de trabalho na segunda metade do século XX foi responsável por mudanças positivas na cultura corporativa.
– Foram as mulheres que levantaram, por exemplo, a questão do trabalho compartilhado, o trabalho remoto em casa etc. Foram demandas que, pouco a pouco, se integraram às práticas do mundo do trabalho – observou ela, que também levantou a necessidade do resgate de uma sensibilidade andrógena nas corporações: – Originalmente, o andrógeno era o ser perfeito, circular, que tinha características do homem e da mulher. Hoje, a ideia de andrógeno é masculina. A humanidade ficou, assim, mutilada.