LOS ANGELES ? Apresentada pela primeira vez na Fundição Progresso no centenário de morte de Lewis Carroll (1832-1898), ?Alice através do espelho? foi sucesso de público e crítica da Armazém Cia. de Teatro. A pedido do GLOBO, a atriz e cantora Simone Mazzer, que viveu a Rainha da Armazém, enviou perguntas para a colega. Bonham respondeu ?de rainha para rainha?.
Você acredita que a Rainha seja de fato uma vilã? Eu acho que não…
Estou com você! A Rainha é, do jeito dela, profundamente honesta. É rica em impulsos, mas sem autocontrole. Ela é reação pura, e foi tão magoada que sua defesa é gritar e ser rude com todos.
Os pequenos tinham muito medo da Rainha, mas também era nítido o fascínio…
Isso acontece comigo também! As crianças adoram se assustar com a Rainha. Percebi que, se você se diverte em cena, faz graça de você mesmo, de seus trejeitos; elas arregalam os olhos, mas também riem com você.
Gostou de ter o poder imaginário de cortar a cabeça de quem quiser?
Adorei, e não se sinta mal por gostar também! É terapêutico e libertário. É como ter uma resposta para qualquer problema: ?corte a cabeça!?. Mas não diria publicamente, nem brincando, de quem cortaria a cabeça, por um motivo: o Estado Islâmico e a barbárie real deles. Vamos seguir com nossas listas imaginárias e secretas mesmo. Tenho certeza de que a sua aí no Rio deve ser tão rica quanto a minha.
Você começa a filmar neste mês o novo filme do diretor dinamarquês Bille August, baseado na história de Eleanor Riese…
Sim, e da relação dela com sua advogada (Hilary Swank). Juntas, elas vão à Suprema Corte da Califórnia pelo direito de pacientes internados em hospitais psiquiátricos de não serem medicados à força. É uma história fantástica.
É meio ?Erin Brockovich??
Sim, Davi contra Golias. Eleanor sofreu com um suave retardo mental e foi diagnosticada com esquizofrenia do tipo paranoica. Ela sabia que estava tomando mais drogas do que precisava e morreu por conta dos efeitos colaterais. Ela lutou pelo direito dos pacientes psiquiátricos de terem voz sobre o próprio tratamento médico. Vi de perto, muitas vezes, na ficção e na vida real, a loucura, as doenças da mente. E quero interpretar a personagem e não a doença, pois é fácil cair na caricatura quando se trata de loucura.
Você se tornou uma especialista em tratar da loucura na tela, é uma coincidência?
Não é, não. Mais do que rotular o outro de ?maluco?, apontar eventuais excentricidades, o que me interessa é identificar a capacidade de cada um de mergulhar em nossas possíveis insanidades. Mais do que ler um roteiro e dizer ?opa, olha outra doidinha para eu fazer!?, tento identificar no personagem características que eu mesma poderia ter, mas decidi não desenvolvê-las em minha vida real. Na ficção, posso lidar com elas.
E quando é que você percebeu que tinha, digamos, um look excêntrico e só seu?
Sempre gostei de figurinos e da ideia de que uma peça de vestuário pode mudar de fato o que você sente por dentro. Infelizmente, claro, algumas vezes o visual não sai exatamente como eu tinha imaginado (risos), e aí o jeito é tentar não levar tão a sério as críticas todas. Leio tudo e me divirto muito com o que escrevem sobre minhas escolhas estéticas.
* Eduardo Graça viajou a convite da Disney