RIO – Filho de um baterista e de uma flautista, Stephen Bruner, de 32 anos, escolheu logo cedo o contrabaixo como seu meio de expressão. Nascido e criado em meio ao suculento caldo musical da cidade de Los Angeles, ele pôs seu instrumento a serviço de artistas tão diversos quanto a banda de skate punk Suicidal Tendencies, o rapper Snoop Dogg, a cantora de alt-r&b Erykah Badu, o jovem jazzista Kamasi Washington e o produtor de música eletrônica de vanguarda Flying Lotus. Em todos os trabalhos, deixou a marca de quem tinha ideias próprias e muito fortes: aquelas mesmas que despeja agora, elaboradas e organizadas, em ?Drunk?, seu terceiro álbum solo.
Como Thundercat, Bruner vive num mundo em que o funk, o jazz fusion, o rap e mesmo a cockatil music convivem não só harmonia como servem de ponto de partida para um divertido jogo musical em que tudo é possível, já que competência instrumental e vocal não lhe faltam. E é com humor que ele costura essa coleção de faixas curtas, conduzidas em boa parte pelo baixo ? em suas mãos, um instrumento versátil, capaz de sustentar tanto melodias e arpejos quanto grooves gordos ? e bem equilibradas entre a sedução pop e a consistência musical. Thundercat – ‘Show You The Way (feat. Michael McDonald & Kenny Loggins)
O mundo que surge da borbulhante imaginação de Thundercat é também, para usar a palavra da moda, distópico. Nele, toda a sonoridade de 2017 pode ser empregada na simulação de um flashback Antena 1 FM, que é ?Show me the way?, com as vozes gasosas de duas lendas do pop californiana de estúdio de mais de 30 anos atrás: Michael McDonald e Kenny Loggins. Kendrick Lamar, o rapper com o qual o baixista trabalhou no aclamado álbum ?To pimp a butterly? (2015) providencia versos para a fantasia romântica com pedal phaser de ?Walk on by?. Whiz Khalifa (em ?Drink dat?) e Pharrell Williams (em ?The turn down?) também ameaçam puxar o disco para os dias de hoje, mas não tem jeito: ?Drunk? existe em seu próprio e indetectável tempo. “Drunk”, de Thundercat
Na viagem de 22 faixas do disco, atravessa-se o sentimento lounge em ?Bus in these streets?, a inconsequência oitentista em ?Jameel?s space ride?, os balanços espaciais Parliament/Funkadelic em ?Friend zone?, o barroquismo dos dedilhados e harmonias vocais em ?Inferno? e o fusion rítmico e torto em ?Uh uh?. De tédio, não se morre em ?Drunk?, um desses discos que caminham sem atropelos apesar dos muitos obstáculos aos quais o artista se impôs.
Cotação: Bom