RIO – Artista que chegou aos olhos do grande público ainda adolescente, em 2011, o inglês Jake Bugg construiu uma carreira baseada no amor a uma música que até mesmo a geração dos seus pais acharia antiga: o blues e o folk de trovadores que costumavam se resolver com um violão e nada mais.
Apesar de competentemente produzidos (e de ter boas canções), seus dois álbuns iniciais, ?Jake Bugg? (2012) e ?Shangri la? (2013), surfavam na monocromia ? algo até compreensível para um artista que se apega à tradição por falta de vivência. Em ?On my one?, seu terceiro álbum, o cantor e compositor de 22 anos assume as cores e o risco. E se, artisticamente, não chega a nenhum lugar novo, pelo menos aumenta suas chances no mercado.
A autenticidade cultivada com o produtor americano Rick Rubin em ?Shangri la? dá lugar a um claro pragmatismo, sob a orientação do irlandês Jacknife Lee (piloto de discos de R.E.M., Weezer e U2). No meio do soul de tons escuros ?Love, hope and misery?, encontra-se um dos refrãos mais poderosos do repertório de Jake Bugg ? coisa digna de Robbie Williams. E em ?Gimme the love? o cantor se lambuza de dance music, num daqueles híbridos roqueiros entre o Kasabian e o velho Primal Scream. Só não assusta mais do que a tentativa de rap em ?Ain?t no rhyme?, que, na melhor das hipóteses, o aproxima das experiências de Beck na juventude. Jake Bugg – Love, Hope And Misery (Official Video)
?On my one? abre, contudo, com o velho Jake Bugg, no folk populista que dá título ao álbum ? na área do voz e violão, ele sai melhor, verdade seja dita, na romântica e sentida ?All that?.
E até que não faz feio reencarnando o Neil Young do Crosby, Stills, Nash & Young em ?The love we?re hoping for?, ou relendo antiguidades sob a lente de Bob Dylan em ?Put out the fire?. Mas são números de um passado. O Jake Bugg de 2016 está mais no soul de olhos azuis de ?Never wanna dance? e na palatabilidade caipira americana de ?Livin?up country?. O que vai ser do artista daqui para a frente é uma incógnita ? mas ainda há bastante tempo para tentar algo que seja só dele, não apenas um eco de outros tempos ou uma mera jogada comercial.
Cotação: regular