Cotidiano

Crítica: em nova turnê, 'O grande encontro' traz proposta bem diferente ? e acerta

Links Grande EncontroRIO ? Vinte anos depois da primeira apresentação do ?Grande encontro?, que viria a render três álbuns e vender mais de 1 milhão de cópias, Zé Ramalho desfalca o quarteto, e a proposta é bem diferente. Isso ficou claro logo às 22h50 deste sábado, no Metropolitan, na estreia da nova turnê.

Ao som de ?Anunciação?, Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo saíram de um oratório gigante, parte do belíssimo cenário bolado por Gringo Cardia a partir de obras do baiano J. Cunha, e a casa lotada por mais de três mil pessoas explodiu feito estádio na hora do gol. Se em 1996 a opção pelo formato acústico se encaixava em uma tendência de sucesso no então pujante mercado fonográfico, a versão 2016, com banda no acompanhamento e eletrificada ocasionalmente por duas guitarras, investe em sucessos de comunicação instantânea e com apelo rítmico para arrastar multidões.

O primeiro bloco, com todos no palco, é um rolo compressor: ?Caravana? (de Alceu e Geraldo), com belo contracanto de Elba, ?Me dá um beijo? (de Alceu, que faz questão de ensinar o refrão ao público) e ?Sabiá? (Gonzagão e Zé Dantas). A banda fica dividida no palco: de um lado, Paulo Rafael (guitarra, fiel escudeiro de Alceu), Cássio Cunha (bateria) e Ney Conceição (baixo); do outro, Marcos Arcanjo (guitarra e violão), Anjo Caldas (percussão), Rafael Meninão (sanfona) e Cesar Michiles (flautas e sax).

Geraldo Azevedo cai matando na embolada visionária ?Papagaio do futuro? (de Alceu), antes de emocionar na sequência lírica com ?Moça bonita?, ?Sétimo céu?, ?Parceiro das delícias? e ?Dia branco?, fazendo a festa dos casais nas mesas. Na chegada de Elba, uma das melhores surpresas do repertório, ?Canta coração?, de Geraldo e de Carlos Fernando.

Elba é a responsável por trazer para o espetáculo o ausente Zé Ramalho, interpretando ?Chão de giz?, depois de uma deslocada e algo exagerada homenagem a Gonzaguinha, ?Sangrando?. O bloco forrozeiro ? com ?Na base da chinela?, de Jackson do Pandeiro e Rosil Cavalcanti, ?Qui nem jiló?, de Gonzagão e Humberto Teixeira, e ?Eu só quero um xodó?, de Dominguinhos ? restabelece a ordem natural das coisas.

O arranjo funkeado de ?Candeeiro encantado?, de Lenine e Paulo César Pinheiro, é uma das ousadias bem-vindas do repertório, e faz a transição para a volta de Alceu ao palco. Não é um show fora da casinha, como a entrada triunfal poderia visualmente sugerir. Mas tem suas desencapadas, muito bem-vindas, protagonizadas por Alceu, ?o maluco mais beleza, o doido mais lindo que eu conheço?, como definiu Elba. É ele quem apresenta a única inédita da noite, ?Ciranda da traição?, devidamente ensinada ao público para que todos respondessem, a cada verso, com um ?traiçoeeeiro? bastante saboreado, antes do refrão ?é no balanço das ondas, no vaivém da paixão/ que eu canto essa ciranda, de ciúme e traição?.

Daí em diante, mais êxtase do público, com todos juntos em ?Táxi Lunar? (parceria de Geraldo, Alceu e Zé Ramalho), ?Pelas ruas que andei? (Alceu e Vicente Barreto) e ?Banho de cheiro? (de Carlos Fernando). O bis foi apoteótico, porém magro: apenas um número, ?Frevo mulher?, talvez porque a plateia estivesse mais preocupada em gritar ?fora, Temer!? do que em pedir ?mais um!?.

Cotação: ótimo.