Cotidiano

Crítica: 'Contos reunidos', de Luiz Lopes Coelho

65627176_SC O escritor Luiz Lopes Coelho por Cássio Loredano.jpg

RIO – ?A A morte no envelope”, ?O homem que matava quadros”, ?A ideia de matar Belina?, os três livros de contos policiais escritos pelo paulistano Luiz Lopes Coelho (1911-1975), publicados entre os anos 50 e 60, podem ser lidos agora num único volume, ?Contos reunidos”, organizado pela Sesi-SP Editora.

Embora, como se afirma na introdução ao volume, Lopes Coelho tenha ajudado ativamente a divulgar ?a arte brasileira e criar espaços culturais?, ele ficou conhecido por ser o ?autor do primeiro livro de contos policiais? no Brasil. O escritor era também advogado especializado em Direito Comercial, mas parece que, na literatura, o Direito Penal lhe falou mais alto.

O gênero, contudo, não era novo por aqui: O mistério, de 1928, escrito por Coelho Neto, Afrânio Peixoto e Viriato Corrêa e Medeiros e Albuquerque, foi considerado, na época, um best-seller.O livro ironizava as narrativas policias clássicas e, nesse sentido, difere-se dos contos de Lopes Coelho, que levou a sério essas narrativas a ponto de ser considerado um discípulo de Arthur C. Doyle.

Ao final de ?Contos reunidos?, há um texto de Otto Maria Carpeaux, ?O crime literário?, em que o ensaísta, depois de receber um livro autografado de Lopes Coelho, se confessa admirador do gênero policial. Segundo Carpeaux, ?não há nada que seja tão interessante como a explicação de um crime misterioso. Não há nada que contribua com eficiência maior para divertir os espíritos preocupados nestes tempos difíceis?. Acredito que os contos reunidos de Lopes Coelho retornam em boa hora no Brasil.

O detetive Leite, personagem central dos contos de Lopes Coelho, embora ?especialista em deslindar enigmas criminais?, também não se sentia pronto para escrever livros policiais: ?Quem sou eu para escrever um livro? Um modesto detetive que vive a brigar com mistérios …?, diz o personagem em ?Seis homens e um brilhante?, um dos contos mais instigantes do livro, pois traz uma reflexão sobre as histórias de detetive: ?o mistério na literatura tem uma ponta de inverossimilhança. Isto é, os escritores não conseguem armar a situação misteriosa, de forma a parecer convincente como é na vida real?. Uma das personagens contra-argumenta: ?você quer coisa mais inverossímil que a própria vida?. Conclui-se então que ?o homem adora o desconhecido, enquanto desconhecido. Persegue a solução do mistério, mas quando a alcança, sente-se enganado e vinga-se, procurando restaurar o mistério, descobrindo inverossimilhanças, surpreendendo contradições, assinalando inadequações psicológicas?.

Voltando a Carpeaux, o ensaísta afirma que os livros policiais ?exigem? o happy end, reestabelecendo com isso o ?equilíbrio moral?. Mas não pense o leitor que encontrará esse desfecho em todos os contos de Lopes Coelho; o conto ?Crime mais do que perfeito? parece não levar em conta essa exigência.

Nos contos policiais do escritor, o enredo é bem construído e a linguagem saborosa, com expressões pouco usuais que soam curiosas: ?a companheira escolhida para ajudar nos quefazeres culinários?. O cenário de seus contos é a cidade de São Paulo, mas o detetive Leite, como afirmou Carpeaux, certamente, ?encontrará muitos adeptos no país inteiro, esperamos, na Polícia Técnica de São Paulo e do Rio de Janeiro?; em tempos de Lava-Jato, os ensinamentos de Leite podem vir a calhar.

Dirce Waltrick do Amarante é autora de ?Ascensão: contos dramáticos” (Armazém)

?Contos reunidos”

Autor: Luiz Lopes Coelho

Editora: Sesi-SP

Páginas: 408

Preço: R$ 69

Cotação: Ótimo