Toledo – Cansados e desgastados por ter de conviver ano a ano com a frequente instabilidade de mercado, suinocultores independentes assumem um novo comportamento como alternativa para manter-se no segmento. Há constatação do início de um processo migratório para formação de minicooperativas, nos moldes de uma integração. Esse perfil já pode ser visto em algumas cidades paranaenses, como Laranjeiras do Sul e Francisco Beltrão. O alerta é do presidente da Associação Paranaense dos Suinocultores, Jacir Dariva, ao citar um cenário econômico nada animador para uma atividade considerada estratégica para a pecuária paranaense e também da região oeste do Estado. Toledo é a cidade paranaense que mais se destaca no quesito produção e abate de suínos. A atividade responde por 1/3 do Valor Bruto de Produção de Toledo, hoje com um plantel estático de suínos de 850 mil cabeças e um abate que chega a 1,6 milhão de toneladas ao ano.
Do início do ano até agora, Jacir Dariva calcula uma debandada da suinocultura independente para a integração ou para outras atividades de 5%. A busca pela integração é direcionada para as cooperativas como também às agroindústrias.
“Pequenos grupos de suinocultores estão se unindo e construindo seus próprios frigoríficos, preenchendo uma lacuna voltada à transformação da matéria-prima”, comenta Dariva. Segundo ele, o risco não é tão expressivo com as subidas e descidas dos preços de mercado, uma vez que o frigorífico absorve o prejuízo que o produtor tem na parte inicial da cadeia de produção.
Para se ter uma dimensão da crise, o ex-presidente da APS, Darci Backes, de Toledo, abandonou a atividade desiludido e cansado de tirar do próprio bolso para manter-se com fôlego na atividade. Ela relata que as constantes oscilações nos preços castigam o produtor. “É preciso investir muito e mesmo assim, o retorno ainda é baixo”, descreveu Backes, que abriu mão da suinocultura há cerca de um ano.
MERCADO
O momento não é nada positivo para o setor, de acordo com Dariva. “O produtor vem a um bom tempo pagando para produzir”, resumiu. O preço médio hoje no Paraná do suíno tipo vivo está cotado a R$ 3,45 o quilo. “Com esses valores, o suinocultor perde R$ 0,20 por quilo entregue, ou seja, são R$ 20 por animal entregue de cem quilos”. Para pelo menos empatar, é necessário que o preço alcance patamares de R$ 3,67 o quilo, que hoje é a estimativa de custo de produção.
Consumo apresenta queda
Os escândalos no Brasil envolvendo as carnes de um modo geral, por conta da Operação Carne Fraca e como reflexo, o boicote do consumidor em relação à compra de produtos com a marca JBS, respingou no setor de suínos no Brasil. A queda nas vendas, de acordo com Jacir Dariva, chegou a 3%, uma redução pequena, utilizando como exemplo o Paraná, responsável por um abate anual de 800 mil cabeças de suínos.
O vice-presidente da Assuinoeste em Toledo, Nelson Minozzo, aponta que o boicote do consumidor à carne acaba refletindo de maneira mais forte nos suinocultores independentes. “O grande problema da falta de consumo também, é por consequência da redução do poder aquisitivo da população, em função da crise”. No Brasil, o consumo per capita de carne de porco é de 13,5 quilos ao ano, uma realidade bem diferente da Alemanha por exemplo, que apresenta consumo per capita de 70 quilos/ano.
NÚMEROS
O rebanho paranaense é de 7.134.055 cabeças
O Paraná tem hoje o maior rebanho de suínos do Brasil, ultrapassando Santa Catarina (16,8%) e o Rio Grande do Sul (14,7%).
No Paraná há 55 estabelecimentos com inspeção SIP e 22 com inspeção SIF
A produção paranaense está concentrada no núcleo regional de Toledo que representa 46,5% do Valor Bruto da Produção. O núcleo regional de Cascavel corresponde a 17,1%, Ponta Grossa 13,2% e Francisco Beltrão 5%.
A suinocultura representa 5,7% do Valor Bruto da Produção paranaense, correspondendo a R$ 4,4 bilhões