RIO – Em 2015, 900 mulheres procuraram a Casa da Mulher de Manguinhos, centro mantido
pela Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos para vítimas
de violência. Em 2016, será improvável que a marca seja alcançada. Fechado há
três meses, o local sofreu três ataques de criminosos desde o início do ano. Sem
terceirizados da segurança e sem condições de reabrir, em um território que
voltou a ser dominado pelo tráfico, a unidade inteira será transferida para uma
das salas do Centro Comunitário de Defesa da Cidadania de Manguinhos, na Avenida
Leopoldo Bulhões.
A agonia da Casa da Mulher de Manguinhos é o exemplo
mais grave da precariedade que atinge toda uma rede de assistência. Com a crise
estadual, os repasses secaram para os profissionais dos centros, como psicólogos
e assistentes sociais. Há cinco meses, eles não recebem salários, vinculados a
um contrato da secretaria com a Uerj. Dos quatro centros de atenção à mulher,
apenas um está funcionando com regularidade (o Márcia Lyra, no Centro). Estupro – 01/06
Dois centros na Baixada Fluminense ? um em Queimados e um em Nova Iguaçu ?
operam com revezamento de funcionários para prestar atendimentos. Em janeiro
deste ano, O GLOBO revelou os problemas financeiros da rede. De lá para cá, nada
melhorou.
A Casa da Mulher de Manguinhos teve suas instalações
depredadas pela primeira vez no dia 4 de janeiro. Vândalos levaram computadores,
eletrodomésticos e quebraram janelas. O ataque, atribuído a traficantes e
usuários de drogas, foi comunicado à Polícia Civil. O local chegou a reabrir,
mas, por falta de segurança, fechou as portas no início de março. Mesmo sem
expediente, sofreu furtos e depredações em mais duas ocasiões: uma no dia 28 de
março e, a última, no dia 17 de maio.
A Secretaria chegou a ter uma empresa de vigilância
atuando nos postos de atendimento à mulher, mas o contrato foi encerrado por
falta de repasses do Tesouro Estadual, segundo a subsecretária de Política para
as Mulheres, Marizete Ramos.
? A gente está fazendo o possível para que esses atendimentos continuem ?
declarou ela, afirmando que a secretaria vai correr atrás de um novo contrato de
segurança.
Já os cerca de 150 funcionários que estão sem receber
ainda não sabem quando a penúria acaba. O contrato anual com a Uerj chegou a
vencer em dezembro do ano passado, e só foi renovado em março deste ano, depois
que o pastor Ezequiel Teixeira (PMB) deixou a pasta, no fim de fevereiro, após
suas declarações em entrevista ao GLOBO repercutirem. Desde então, a secretaria
vem sendo comandada por Paulo Melo (PMDB), mas o problema da falta de dinheiro
continua:
? Está muito difícil ? admitiu o titular da pasta.
A Secretaria de Fazenda informou que os pagamentos serão
realizados ?o mais rapidamente possível, dependendo da disponibilidade de
recursos?.
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