WASHINGTON – Depois de a Comissão de Inteligência da Câmara
dos Representantes pedir ao governo do presidente dos EUA, Donald Trump, para
fornecer provas de que os telefones da sua Trump Tower em Nova
York foram grampeados no ano passado, o senador John McCain,
republicano como o presidente, afirmou ontem que os americanos precisam de uma
explicação. Em seu Twitter, no início do mês, o chefe da Casa Branca acusou o
seu antecessor, Barack Obama, de espionar o seu quartel-general durante a
corrida presidencial. No entanto, Trump nunca
apresentou evidências ou revelou a fonte da informação, levantando especulações
sobre a veracidade da história.
? Eu acho que o presidente tem uma escolha a fazer: retratar-se ou fornecer
as informações que o povo americano merece porque, se o seu antecessor no cargo
violou a lei, se o presidente Barack Obama violou a lei, temos uma questão séria, para
dizer o mínimo ? afirmou McCain em
entrevista à rede de TV americana CNN. ? Eu não tenho razões para acreditar que
a acusação seja verdadeira, mas também acho que o presidente dos Estados Unidos
poderia esclarecer tudo em um minuto.
‘POR QUE O PRESIDENTE DIRIA ISSO?’
Tanto McCain quanto
outros parlamentares americanos insistem que Trump poderia pedir aos serviços de Inteligência
para fornecer provas que corroborem sua afirmação. Mas o presidente quer que o
Congresso investigue o caso. Não se sabe qual foi a fonte em que Trump se baseou para fazer as acusações contra
Obama. Nos dias anteriores às declarações do
presidente, o site ultradireitista ?Breitbart News”e rádios
conservadoras citavam alegações semelhantes, porém não comprovadas.
Os deputados Devin Nunes e
Adam Schiff, que
integram a Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes, enviaram ao
Departamento de Justiça um pedido para que Trump forneça provas para sustentar as suas
alegações. Schiff
afirmou ontem que também pediria ao diretor do FBI (a polícia federal
americana), James Comey, que
investigue as acusações do presidente.
? Eu acho que em 20 de março, talvez antes, poderemos
colocar esse assunto de lado ? disse Schiff ontem
no programa ?This Week?, da rede ABC. ? A única pergunta que fica é:
por que o presidente diria isso?
James Clapper, o
diretor de Inteligência do governo de Obama,
afirmou que nada do que foi dito por Trump
aconteceu, o que não diminuiu as especulações em torno dos grampos. À CNN, McCain afirmou que a continuação das especulações
afeta a credibilidade do governo frente aos cidadãos americanos.
? Se a alegação é deixada lá, mina a confiança que o povo americano tem na
maneira como o governo conduz os seus assuntos ? disse o republicano.
A conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway, afirmou ontem à Fox News que as comissões de Inteligência da Câmara e
do Senado concordaram em apurar o caso e que o governo comentará ?depois que a
investigação estiver completa?.
Os tuítes de Trump
acusando o governo de Obama de
grampear suas comunicações não são a única questão com a qual as autoridades e a
Inteligência americanas precisam lidar. O ?Wall Street Journal?
divulgou ontem que a investigação sobre o vazamento de quase nove mil documentos
secretos da CIA pelo WikiLeaks se
concentra em ex-empregados da agência de Inteligência que, por descontentamento,
decidiram tornar público um suposto sistema de espionagem de usuários da
internet por meio de dispositivos eletrônicos: smartphones, computadores e até TVs conectadas à
rede seriam alvos.
PRESTADORES DE SERVIÇOS
O site fundado por Julian Assange
afirmou que teve acesso às informações por meio de prestadores de serviço, o que
levou os investigadores a se concentrar em um grupo de desenvolvedores de
software com altos níveis de permissões de segurança, afirmou o jornal.
O envolvimento de contratistas no vazamento de
informações sigilosas não seria uma novidade nos Estados Unidos, já que, em
2013, Edward Snowden, contratado da Agência de Segurança
Nacional (NSA), divulgou documentos sobre a espionagem feita pelo governo
americano das comunicações de seus cidadãos e aliados. Snowden hoje se encontra refugiado na Rússia.