SÃO PAULO – A Comissão Parlamentar de Inquérito instalada pela Câmara dos Vereadores de São Paulo que investigou desvios no Theatro Municipal encerrou os trabalhos, na manhã desta quinta-feira, com a rejeição do relatório oficial e a aprovação de um relatório paralelo. Assinado pelos vereadores de oposição Ricardo Nunes (PMDB), Quito Formiga (PSDB) e Salomão Pereira (PSDB), o documento aprovado sugere ao Ministério Público o indiciamento do secretário de Comunicação da Prefeitura, Nunzio Briguglio, por supostamente ter participado de um esquema lesivo aos cofres públicos.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também havia sido incluído no relatório dos vereadores de oposição. Mas foi retirado após votação de dois destaques que pediam exclusão do seu nome e de Briguglio do documento. O destaque pedindo a exclusão do nome do secretário de Comunicação foi rejeitado.
Além do secretário de Comunicação, são acusados dos mesmos crimes também o ex-diretor da Fundação Theatro Municipal José Luis Herência e o ex-diretor do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural William Nacked. O maestro John Neschling, ex-diretor artístico do Municipal, também está entre os responsáveis pelos desvios listados no relatório que será encaminhado ao MP.
O relatório oficial da CPI, redigido e apresentado pelo vereador Alfredinho (PT), foi rejeitado. Neste documento, foi estimado um desvio da ordem de R$ 21,8 milhões e apontados como responsáveis pelo esquema 21 nomes, entre os quais Herência, Nacked e Neschling.
Herência e Nacked foram intimados pelo Ministério Público de São Paulo, que conduz uma investigação sobre os supostos crimes na FTM e no IBGC. Ambos assinaram acordos de delação premiada e aguardam o término das investigações.
Para o vereador Quito Formiga, presidente da CPI, o relatório do vereador Alfredinho apenas reproduzia documentos da Controladoria Geral do Município, que fez a denúncia dos desvios, e do Tribunal de Contas do Município, que rejeitou as contas da FTM de 2014. Segundo Formiga, os principais avanços das investigações, que teriam levado ao envolvimento do secretário Briguglio e do maestro John Neschling, ficaram de fora do relatório oficial:
? Por essa razão, aprovamos o relatório paralelo, que se debruçava sobre o assunto de forma mais abrangente ? disse ele, em entrevista ao GLOBO, após a sessão da CPI.
O vereador Alfredinho minimizou a rejeição ao seu relatório dizendo que 90% do teor do seu documento também consta do que foi aprovado. Além disso, classificou como resultado de uma “briga política” a inclusão dos nomes de Briguglio e do Prefeito no texto final elaborado pelos adversários:
? Nem o Nunzio, nem o prefeito precisavam ser citados ? disse ele.
A Secretaria de Comunicação da Prefeitura enviou nota na qual acusa o vereador Ricardo Nunes de perseguir obsessivamente o secretário Nunzio Briguglio, “ainda que sem qualquer elemento probatório”.
“O secretário depôs exaustivamente na CPI sobre todas as questões formuladas. Não deixou de responder nenhuma delas. Só uma motivação claramente política poderia lhe imputar qualquer responsabilidade. Convém ressaltar que o nome do secretário Nunzio Briguglio não aparece nem no relatório da Controladoria Geral do Município que apurou os desvios, nem no relatório da intervenção da Fundação Theatro Municipal no IBGC.”