RABAT – Cabeças de cabra e bolsas. Temperos e tapetes. Pashminas e azeitonas… Imagine todas as especiarias, aromas e sabores do Marrocos em um só lugar. Assim como em outras cidades desse país no noroeste da África, as vielas e os labirintos da Medina de Rabat garantem essa experiência ao visitante. Essas áreas históricas muradas, com barraquinhas que formam um grande mercado a céu aberto, são locais muito frequentados por moradores, que fazem ali suas compras diárias, e por turistas.
Capital do Marrocos, Rabat guarda a tradição. Não é tão europeizada como Casablanca, Marrakech ou Tanger, que tem uma cultura mais liberal. Foi fundada em 1150 com um grande muro ao redor, formando um fortaleza protegendo moradores, a mesquita e a residência oficial, que passaram por restaurações e modificações ao longo do tempo
A fortificação dá ares de vila medieval à cidade. Os muros que protegem labirintos e vielas da Medina fazem com que o mercado popular seja uma espécie de tesouro bem guardado. Ao entrar, nota-se o silêncio. Os vendedores gritam para anunciar seus produtos, mas os muros afastam o mercado das ruas com carros. Não há som de motor ou buzina. Lá dentro também não há prédios ou construções modernas. Dá para imaginar como funcionava o local há séculos.
Sem os ruídos externos típicos de grandes cidades, visão e olfato ficam mais aguçados. Sente-se o cheiro de incensos e temperos de longe. As barracas que vendem condimentos não só atraem pelos aromas como pelas cores. Coentro, açafrão, noz-moscada, canela e páprica são os mais populares. Exibidos em grandes sacos abertos, são vendidos a peso. Além de temperos, os marroquinos apreciam muito as azeitonas, vendidas em barracas exclusivas. A variedade é imensa. Todas carregadas no tempero e, especialmente, na pimenta.
Quer pagar quanto?
A Medina de Rabat tem duas partes. Uma colada ao muro, no lado externo da cidade. Esse pedaço, onde também não se ouve o barulho dos carros, é mais voltado ao dia a dia dos moradores. A maior parte das barracas e pequenas lojas é de roupas e calçados que estampam marcas famosas ? falsificadas. Muitas barracas oferecem utensílios para a casa, em especial, a cozinha. Curioso é ver roupas sendo vendidas ao lado de um açougue. Nessa parte da Medina, tudo se mistura. O trânsito de pedestres é intenso. Percorrer um trecho curto pode levar longos minutos.
Na área da Medina cercada por muros não há tanta confusão. As barracas são, mais ou menos, organizadas por setores. Os produtos têm mais qualidade. Mas, na maioria das vezes, é possível achar o mesmo item por um preço mais em conta na área externa. Para isso, é preciso bater perna e procurar. O mesmo modelo de bolsa de couro vendido a 150 dirhams marroquinos (R$ 50) na parte interna pode ser encontrado lá fora por 70 dirhams (R$ 23). Na parte interna, há tapetes de todos os tamanhos, bordados, cores e preços. Pashminas, de muitas cores e estampas, saem por 70 dirhams (R$ 23). Peças de artesanato de Fez, cidade do país conhecida pelo talento de seus artesãos, estão por toda a parte. Babouches (sapatos marroquinos) saem por 50 dirhams (R$ 17).
A cultura árabe é famosa pela negociação no comércio. No Marrocos não seria diferente. É divertido observar a reação dos vendedores ao ver o cliente entrando na loja. Alguns são mais reservados, mas em geral exibem um ar de satisfação: é como se o mais difícil, que seria atrair o cliente, já tivesse sido feito e a venda seria uma consequência inevitável. Não há preços tabelados. É tudo na base da negociação, e o vendedor costuma perguntar quanto o cliente pagaria pelo produto antes de dizer o preço.
Rabat, no geral, é bem policiada, mas é raro ver agentes pela Medina. Ainda assim, durante o dia, o local não causa sensação de insegurança e é comum ver turistas mulheres enquanto ainda há luz do sol. A cidade tem ambiente menos opressor em comparação a outros países árabes.
Victor Costa viajou a convite da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).