Começou ontem e segue até a sexta-feira (6) o 1º Congresso sobre Autismo de Cascavel, organizado pela Amac (Associação de Mães de Autistas de Cascavel). Ao todo, 850 pessoas se inscreveram no evento, realizado no auditório da Unipar.
A abertura ficou por conta da criadora da Lei Federal do Autismo, Berenice Piana. Ela contou sobre a experiência pessoal com o TEA (Transtorno do Espectro Autista), vivenciada com o filho, hoje já adulto. Segundo ela, as dificuldades encontradas desde o diagnóstico foram fundamentais para encampar a luta pelos direitos dos autistas e o acesso a políticas públicas de qualidade.
“Lutei pela lei porque vi mães sofrendo terrivelmente sem nenhum apoio na rede pública, inclusive eu. Precisei buscar tratamento na rede particular, pois não tive acesso pelo SUS. Fiquei muito revoltada em ver tantas famílias passando por isso. Frequentei por três anos o Congresso Nacional, até que em 27 de dezembro de 2012, a lei 12.764 foi aprovada”, conta Berenice.
Apesar da existência da lei, ela praticamente não é cumprida. De acordo com Berenice, a rede pública continua falha, especialmente na educação e na saúde. Muitas mães, para garantir o direito de um professor de apoio no ensino regular, precisam apelar para a Justiça, mesmo este sendo um direito garantido na Constituição. “A lei define que o autista tem os mesmos direitos que qualquer pessoa com deficiência, mas hoje ela é cumprida de cima para baixo, ou seja, as famílias só conseguem estes direitos acionando o Ministério Público”, lamenta.
Nas escolas, falta ainda preparo e métodos adequados de alfabetização. “Muitos profissionais ainda não sabem lidar com o autismo. Além disso, pais confundem o papel do professor com o do médico, mas se enganam, pois antes de levá-lo à escola, é preciso tratá-lo”, explica.
Único centro do Brasil
Para que o autista tenha seus direitos cumpridos e mais qualidade de vida, a palestrante propõe a criação de centros integrados. A ideia é pioneira no Rio de Janeiro, e completou quatro anos no início deste mês. Lá, a Clínica Escola do Autista, fundada por Berenice em 2013 em parceria com o município, atende 157 pessoas, com foco no ensino individualizado e multidisciplinar. “As crianças saem daqui preparadas para o ensino regular”, diz.
Atendimento
Hoje, a maioria dos autistas é atendida nos CAPS (Centros de Atendimento Psicossociais), onde, segundo Berenice, pacientes com diferentes diagnósticos, inclusive dependentes químicos, são tratados no mesmo local e às vezes da mesma forma que uma criança ou adolescente com autismo. “Cada um precisa ter um tratamento especializado. Nos CAPS isso nunca vai acontecer, pelo contrário, eles podem até piorar, pois convivem com pessoas em estado alterado de consciência”, afirma.
Na clínica, a porta de entrada é o neuropediatra, além de acompanhamento nutricional e terapias diferenciadas. Em Cascavel, ainda não há projeto semelhante, mas conforme Berenice, é uma iniciativa que pode ser compartilhada.