WASHINGTON ? O medo da deportação está levando imigrantes a se esconder dentro de casa nos Estados Unidos. Muitos deles evitam sair na rua, até mesmo para realizar suas atividades rotineiras: ir ao supermercado, levar os filhos na escola ou participar de cerimônias religiosas em igrejas. O clima de ansiedade apenas cresce para os cerca de 11 milhões de ilegais no país, sobretudo desde que, no início da semana, o governo republicano do presidente Donald Trump anunciou um novo plano para reforçar o controle migratório, facilitando as deportações dos indocumentados em todo o país.
Ao ?New York Times?, a imigrante Meli, de 37 anos, conta que se colocou em um regime de cárcere privado. Há doze anos em Los Angeles, desde que chegou de El Salvador, ela agora se recusa a dirigir ou sair de casa. Ela se pergunta como vai levar seu filho caçula, que sofre de autismo, às consultas médicas.
? Eu não quero ir ao supermercado ou às igreja. Eles estão procurando em todo lugar e sabem onde nos encontrar ? disse Meli, que pediu para não ter seu sobrenome identificado. ? Eles poderiam estar nos esperando em qualquer lugar. Em qualquer esquina, em qualquer quarteirão.
Na Califórnia, dezenas de pais imigrantes já assinaram documentos para autorizar amigos e parentes a buscar seus filhos nas escolas e ter acesso às suas contas bancárias para pagar contas. Há também quem já prepare passaportes para os filhos para que, caso os pais sejam levados de volta ao país de origem, as crianças que ficarem possam visitá-los. Tudo isso é precaução para o caso de serem detidos por agentes de imigração. Enquanto isso, na Filadélfia, imigrantes carregam um guia que, em espanhol e em inglês, explica os seus direitos e o que eles devem fazer caso sejam presos.
Aos 23 anos, Zuleima Dominguez e a sua família mexicana estão sendo cuidadosos até mesmo na hora de abrir a porta de casa em Nova York. Se alguém não chega em casa na hora prevista, logo os parentes começam a se telefonar, preocupados, para garantir que está tudo bem.
Em El Paso, no Texas, Carmen Ramos e seus amigos desenvolveram uma rede de mensagens digitais para se manterem informados sobre as localizações dos postos de fiscalização migratória.
Ela conta que até mesmo para dirigir está mais cautelosa ? sempre em velocidade baixa e com as lanternas do carro funcionando ? para evitar ser parada por policiais. Ela fugiu de Ciudad Juarez com seu marido e três filhos por causa da violência do narcotráfico e das ameaças de morte em 2008. A família entrou nos Estados Unidos com vistos de viagem que, desde então, já expiraram.
? Estamos surpresos que até mesmo uma multa pode nos levar de volta ao México ? conta Carmen. ? Nós não teríamos para onde voltar.