RIO ? São apenas 20 minutos, tempo suficiente para flagrar avanços de sinal e até o uso de uma passagem de pedestres como retorno. Na Avenida Alfredo Baltazar da Silveira, no Recreio, ninguém se incomoda muito com o festival de irregularidades. Corriqueiras, elas dão a impressão de que a pista é de quem acelera mais. Na Zona Sul, o comportamento de motoristas mal-educados se repete. Também bastaram 20 minutos em Copacabana para se verificar uma chuva de infrações. A regra, ali, é improvisar um lugar para estacionar, mesmo que isso feche parcialmente as calçadas. Com tantas infrações de trânsito, onde, afinal, moram os motoristas campeões de multas do Rio?
Durante quase um mês, o Núcleo de Dados do GLOBO analisou as multas aplicadas na cidade em 2015. Com as informações, obtidas junto ao Detran, foram geradas, pela primeira vez, as taxas de infrações para a frota de cada bairro. Os resultados, que envolvem os registros de cerca de 2,8 milhões de infrações no ano passado, mostram que Barra, Recreio, Vargem Grande, Camorim e Jacarepaguá têm as maiores taxas de multas por veículo (carros, motos e caminhões). São infrações que podem ter sido cometidas em qualquer lugar do Rio, mas que acabaram levando os proprietários dos veículos desses bairros para o topo da lista dos motoristas mais multados da cidade. O Recreio registrou 196 multas para cada 100 veículos. Uma taxa duas vezes maior que a de toda a cidade: 96. Trânsito – 08/07
A distribuição por tipos de infrações mostra que bairros da Zona Oeste lideram as taxas de multas por excesso de velocidade e avanço de sinal, enquanto a Zona Sul e o Centro registram mais flagrantes de estacionamento irregular. Segundo especialistas, a maioria das infrações é cometida nas proximidades dos locais onde os motoristas residem, já que elas apresentam similaridades com as características viárias de cada região. Barra, Recreio, Santa Cruz e Guaratiba têm mais vias e espaços livres. No Centro, em Ipanema, em Copacabana e no Leblon, a falta de lugar para tantos carros é um convite para estacionamentos irregulares. Como a Zona Sul também é uma região com mais pedestres e cruzamentos, os motoristas têm menos chances de pisar fundo no acelerador.
Na quinta-feira, uma profissional de marketing, moradora da Barra há 26 anos, que preferiu não se identificar, retirava de seu carro adesivos da Secretaria de Ordem Pública. Ela foi multada por estacionamento irregular, algo que garante ser uma exceção:
? Recebo entre quatro e cinco multas por ano, e a maioria é por excesso de velocidade. Grande parte foi registrada aqui mesmo, na Barra, onde falta sinalização adequada para informar ao motorista quando há mudança no limite de velocidade.
Diretor técnico do Observatório Nacional de Segurança Viária (OSNV), Paulo Guimarães afirma que análises dos tipos de multas por cada bairro confirmam resultados de estudos que tratam de acidentes de trânsito.
? Quase sempre nos lembramos de colocar o cinto de segurança antes de cruzar a cidade ou percorrer grandes distâncias, mas, para ir à padaria perto de casa, não o usamos. Esse é um comportamento que revela que somos relaxados quando estamos em um ambiente que conhecemos.
Mas não são apenas as características viárias do bairro que influenciam o comportamento dos motoristas: para Guimarães, os cariocas, assim como moradores de outras grandes cidades brasileiras, tendem a reagir à legislação de trânsito, o que é muito diferente de seguir as regras. Segundo ele, faltam campanhas educativas:
? Nosso grande sonho não é ver o respeito à legislação, mas, sim, ver a população acreditar nela. Isso é o que leva uma pessoa a seguir as normas em qualquer circunstância, e não apenas seguir as regras quando há possibilidade de punição.
Assessor da presidência da CET-Rio, Ricardo Lemos diz que a prefeitura tem feito diversas campanhas educativas nas escolas. Ele não acha que multas sejam aplicadas por ausência de sinalização adequada na cidade:
? Temos um grupo de verdinhos (técnicos que auxiliam o trânsito do Rio) que trabalha diariamente, orientando motoristas em vários bairros. Essas ações têm gerado efeitos positivos. Nossa meta de reduzir em 15% a taxa de acidentes, por exemplo, já foi superada. Conseguimos, este ano, reduzi-la 25% em relação a 2008. No que diz respeito às multas, há, sem dúvida, uma questão relacionada à característica viária dos bairros.
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