A Polícia Penal do Paraná (PPPR) promoveu nos dias 5 e 7 a formatura conjunta de 94 pessoas privadas de liberdade (PPLs) que participaram de cursos profissionalizantes realizados na Colônia Penal Industrial de Maringá (CPIM). Foram oferecidos de forma presencial os cursos de Costura Industrial e Aplicador de Revestimento Cerâmico com 47 alunos, enquanto outros 47 participaram de cursos como profissional em vendas, construção civil, cuidador de idosos, gestão para empresa de transporte e assistência em farmácia por meio da Fanduca, uma avançada plataforma digital.
Para o diretor da CPIM, Vaine Gomes, ter o projeto dentro da unidade foi inédito, além de ser uma qualificação que pode garantir um recomeço quando o interno deixar a prisão. “Maringá é um polo de confecções, com muitas oportunidades na área de vestuário e precisa de mão de obra qualificada. É gratificante proporcionar cursos que podem abrir portas para o mercado de trabalho”, diz o diretor.
Costura Industrial – Com carga de 80 horas e dividido em duas turmas, o curso foi realizado por meio de uma parceria entre o Complexo Social de Maringá e a CPIM, onde a Carreta do Conhecimento ficou 30 dias estacionada na unidade. O projeto Carretas do Conhecimento oferta capacitações a pessoas privadas de liberdade, egressos e monitorados eletronicamente, facilitando a empregabilidade e o desenvolvimento dos alunos. A iniciativa, desenvolvida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-PR), oferece cursos de qualificação profissional por meio de unidades móveis.
A pedagoga da unidade, Ivanir Jolio, disse que os alunos aprenderam a fazer desde tarefas básicas como colocar a linha na agulha da máquina a complexas como costurar barras, punhos e golas nas peças de roupas que já vieram cortadas. Todo o material de treinamento foi disponibilizado pelo Sistema Fiep.
A professora Josiane Dias, do Senai, disse que percebeu a superação dos alunos, dia após dia. “No começo, eles sofreram bastante para passar a linha na máquina e até com a coordenação motora. Mas ao final do curso trouxeram até as próprias roupas para fazer pequenos ajustes”. Ainda de acordo com a professora, no início do curso ela precisou auxiliar os alunos nos ajustes e ao final, eles faziam sozinhos. “É gratificante saber que de alguma forma eu consegui contribuir para o aprendizado deles. Eu os ajudei a vencer um desafio”, diz emocionada. Para a professora, os alunos estão aptos para o mercado de trabalho e a experiência virá com a prática.
Um dos custodiados gostou tanto do curso que gostaria que tivessem mais aulas. “Comentei com a professora que queria mais tempo para aprender mais. Seria muito melhor”, afirma.
E entre linhas e agulhas, o processo envolveu o aprendizado em vários tipos de máquinas de costura, como a reta e a overloque. “Quero ter essa profissão quando sair daqui”, conta outro custodiado. Recluso desde 2008, ele tem 34 anos, trabalha numa empresa de confecção dentro da CPIM e o curso serviu como aperfeiçoamento. Agora com o certificado em mãos, o desejo dele, como de tantos outros, é ter uma oportunidade de trabalho ao fim da pena.
Aplicador de Revestimento Cerâmico – Além do curso de Costura Industrial, os detentos puderam se profissionalizar em outras áreas. Quem ministrou o curso de Aplicador de Revestimento Cerâmico foi o instrutor Sérgio José, que, pela terceira vez, deu aulas em uma unidade penal. Ele já ministrou cursos na Casa de Custódia de Maringá, na Penitenciária Estadual e agora na CPIM. Para ele, é gratificante notar que mais internos estão buscando se capacitar e, assim, mudar de vida. “Para nós, que somos professores, não tem nada melhor do que o conhecimento sendo adquirido. Estamos educando as pessoas para uma nova vida”, diz
No curso de Piso e Revestimentos os alunos aprenderam sobre os materiais utilizados, sobre os pisos comuns, retificados e o porcelanato. Também aprenderam sobre argamassas específicas. Os alunos aprenderam a orçar e a dar direção para o cliente do que seria viável para a obra. Noções de autoconhecimento, desenvoltura, ética profissional, direitos e deveres como cidadãos também fizeram parte da grade, que contou com muitas aulas práticas. Uma sala da unidade foi toda reformada pelos internos.
Presente na cerimônia de formatura, uma das coordenadoras do Conselho da Comunidade de Maringá, Helena Maria Ramos dos Santos, diz que existe muito preconceito com as pessoas privadas de liberdade. “Quando eu participo desse tipo de ação, que está contribuindo para garantir a defesa e os direitos dessas pessoas, tendo um retorno adequado à sociedade, por meio de estudo, cursos e de trabalho, eu sinto que o sistema está fazendo a sua parte para esta pessoa ter uma volta com dignidade”, destaca.
Para o coordenador da PPPR em Maringá, Júlio César Franco, a pessoa que participa de uma capacitação quer mudar de vida, voltar ao convívio social e ao mercado de trabalho. “Isso sinaliza que as políticas públicas de ressocialização no sistema prisional estão, de fato, ajudando a transformar vidas das pessoas em privação de liberdade”, avalia.
FANDUCA EAD – No dia 7 de dezembro também aconteceu a cerimônia de entrega dos certificados dos formandos da Fanduca EAD do Paraná, dos cursos de profissional em vendas, construção civil, cuidador de idosos, gestão para empresa de transporte e assistência em farmácia. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Segurança Pública, Polícia Penal do Paraná (PPPR), Fanduca e a Universal nos Presídios (UNP).
O vice-diretor da unidade penal, Vitor Tadeu Scaramella, diz que os cursos de qualificação são uma forma de trabalhar a ressocialização das pessoas privadas de liberdade com valores éticos e religiosos. “Essas pessoas precisam ter aprendizado, formação profissional e apoio religioso para que as oportunidades aqui dentro se tornem oportunidades lá fora quando retornarem à sociedade”, finaliza.
Fonte: Polícia Penal PR