Cotidiano

CNI pede que governo não olhe só a inflação ao avaliar o câmbio

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BRASÍLIA – Em comunicado divulgado nesta quinta-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou estar preocupada com a taxa de câmbio e pediu ao governo para que adote mecanismos que evitem a volatilidade excessiva e a valorização permanente do Real. Segundo a entidade, esse cenário prejudica a indústria nacional e se torna um obstáculo ao crescimento da economia brasileira.

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No documento, a CNI pede providências ao governo. A entidade reconhece que é difícil alterar a tendência dos movimentos cambiais globais. Porém, avalia ser possível atuar para evitar flutuações excessivas na taxa de câmbio que têm origem no mercado doméstico e mundial.

“No curto prazo, é indispensável adotar mecanismos que evitem a valorização permanente da moeda brasileira”, destaca a CNI no comunicado. É fundamental que os formuladores de política tenham em mente os efeitos da valorização cambial não só na inflação como no restante da economia, em especial na indústria”.

Segundo a entidade, nos dois primeiros meses de 2017 houve uma queda adicional de 7,2% no preço do dólar, acumulando uma redução de 23% desde janeiro do ano passado. Para a entidade, é possível atuar para evitar flutuações excessivas na taxa de câmbio originadas do mercado doméstico e mundial e, principalmente, coordenar as políticas domésticas para minimizar os efeitos indesejados sobre a taxa de câmbio.

“A vigência de uma política monetária muito restritiva, em função da permanência de déficits fiscais elevados, provoca a ocorrência de taxas de juros brasileiras muito acima das taxas internacionais. O diferencial de juros atrai recursos externos que fomentam uma valorização da moeda brasileira não fundamentada nos fatores reais de custo e competitividade. A convergência da inflação para a meta permite, e justifica, a redução desse diferencial, com queda mais pronunciada dos juros domésticos”. diz um trecho do documento.

No comunicado, a CNI adverte que, ao tornar os bens importados mais baratos, sobrevalorizações cambiais excessivas e prolongadas reduzem a lucratividade da produção e do investimento em setores de bens comercializáveis (que são transacionados internacionalmente). Ao mesmo tempo, o preço de não-comercializáveis fica artificialmente mais elevado.

“Como setores de bens comercializáveis são, tradicionalmente, setores que tendem a ter maior capacidade inovadora, maior agregação de valor e maior nível de produtividade, a valorização provoca a transferência de mão-de-obra de setores de baixa produtividade para os de alta produtividade, com impacto negativo no nível de produtividade geral da economia”, diz o documento.

A explicação dos técnicos para esse temor é a seguinte: como as operações de comércio exterior têm prazos longos, negócios de exportação realizados há seis meses, com uma determinada taxa de câmbio, têm seu fechamento financeiro afetado quando a taxa de câmbio sofre valorização brusca e excessiva. De forma geral, a consequência é o prejuízo.

“O nível da taxa de câmbio é uma variável fundamental no processo de desenvolvimento econômico, pois alterações na taxa de câmbio podem provocar importantes efeitos sobre a estrutura produtiva e de emprego do País. Seu comportamento reflete diretamente na competitividade da indústria, pois sua valorização torna os produtos estrangeiros mais competitivos frente aos nacionais, seja no mercado doméstico, seja no exterior”.

De acordo com a entidade empresarial, além da valorização cambial em si, a volatilidade do câmbio também é bastante negativa. Sondagem realizada pela CNI coloca a instabilidade da taxa de câmbio entre os principais problemas enfrentados pela indústria em 2016.

“A instabilidade dificulta a formação de preços, as decisões de investimento e de produção das empresas industriais”.