SÃO PAULO ? A jornalista Cláudia Cruz não tinha como desconfiar que depósitos milionários feitos pelo seu marido, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, em uma conta oculta no exterior, poderiam ter origem ilícita, afirmam seus advogados. Em petição encaminhada ao juiz Sérgio Moro, a defesa diz que a jornalista possui confiança ?irrestrita? no marido acusado na Lava-Jato de receber mais de US$ 5 milhões em propina.
Para os advogados, parte das acusações contra o casal é decorrente da ?notória inimizade? entre Cunha e a presidente afastada Dilma Rousseff. Em petição, encaminhada na segunda-feira à noite ao juiz Sérgio Moro, os advogados Pierpaolo Bottini, Cláudia Vara San Juan Araújo e Stephanie Guimarães afirmam que as provas produzidas pela Operação Lava-Jato contra ela são ilícitas e que as investigações violaram o direito a ampla defesa.
Eles pedem a absolvição sumária de Cláudia Cruz e rejeição das denúncias. Os advogados afirmam que os valores depositados em sua conta na Suíça vieram de Cunha e ela não tinha motivos desconfiar de alguma irregularidade:
“Seria excessivo exigir de uma esposa que desconfiasse dos valores repassados pelo marido para gastos pessoais e instrução com filhos”, afirmam os advogados completando que a compra de bolsas e artigos de luxo não caracterizam lavagem de dinheiro:
?Comprar sapatos, bolsas e pagar escolas e instituições de ensino para filhos não tem natureza de ?conversão em ativos lícitos?. Os recursos não foram transformados em ativos passíveis de operações posteriores, mas foram consumidos?, afirma a petição.
Eles afirmam ainda que não tiveram acesso a todos os documentos produzidos nas investigações suíças, usados como base nas acusações contra ela e contra Cunha, e, por isso, não pode verificar se eles foram produzidos segundo os “bons costumes” do Brasil.
“A ideia de delegação de investigações ? adiante questionada ? supõe uma transferência completa dos documentos, para que a autoridade brasileira e o próprio investigado possam apurar se as diligências apresentadas respeitaram a legislação do país onde foram produzidas e a ordem pública ou os bons costumes no Brasil”, afirmam os defensores.
Os advogados afirmam que os termos de cooperação entre Brasil e Suíça foram usados de maneria errada e violam a constituição. E pedem a suspensão do andamento da ação contra ela até que todos os pedidos sejam atendidos. Para eles, ainda que houve violação ao contraditório e a ampla defesa já que não foram disponibilizados todos os documentos usados pela acusação. Eles chegam a apontar a falta de tradução da documentação do contrato de aquisição do campo de exploração de Petróleo, em Benin, produzidos em inglês e francês.
A defesa prévia é uma fase inicial do julgamento. O juiz Sérgio Moro analisa a argumentação dos defensores e determina se mantém ou não as investigações.
Os defensores de Claudia Cruz arrolaram 26 testemunhas de defesa. Entre elas, membros da CPI da Petrobras como o deputados Hugo Mota, que presidiu a Comissão, Felipe Maia, Carlos Marum, Maurício Quintela, Jovair Arantes, Gilbert Nascimento, Bruno Araújo e Atila Lins.