Cotidiano

Cineasta diz que não sabia sobre concorrência em contrato com Teatro Municipal de SP

SÃO PAULO – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada pela Câmara dos Vereadores para investigar desvios nas contas da Fundação Theatro Municipal de São Paulo ouviu nesta quarta-feira o cineasta Toni Venturi sobre a contratação de sua empresa, a produtora Olhar Imaginário, para fazer filmes institucionais para o teatro no valor de R$ 540 mil.

A condução coercitiva do maestro John Neschling, diretor artístico do Municipal, foi rejeitada pela Justiça, mas a sua mulher e sócia na empresa PNM, a escritora Patrícia Mello, compareceu, acompanhada do advogado de ambos, Eduardo Carnelós, e exerceu seu direito de permanecer calada. José Luiz Herência, ex-diretor administrativo da fundação, e William Nacked, ex-diretor do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), também compareceram.

Venturi apresentou à comissão quatro dos onze filmes institucionais sobre o Municipal produzidos por ele, incluindo um de um minuto e uma versão reduzida de 30 segundos. Em todos eles aparecem depoimentos de Neschling e de outros quadros envolvidos nos corpos estáveis da fundação. A encomenda, disse o diretor, eram cinco filmes, incluindo um minidocumentário, e cinco spots de rádio. Nenhum dos filmes foi veiculado em nenhum veículo até hoje.

Os integrantes da CPI questionaram Venturi sobre como ele teria sido contratado, se passou por concorrência pública e quais eram as relações com o maestro Neschling e o secretário de Comunicação da Prefeitura, Nunzio Briguglio. O cineasta disse que conhecia Briguglio desde 2003, quando este era assessor de comunicação da Infraero. E que conheceu o regente na ocasião em que produziu os filmes, de maio a julho de 2015.

Venturi disse também que não passou por concorrência para obter o contrato dos filmes, mas foi consultado comercialmente por Herência e Nacked. Falou também que enviou um envelope lacrado com a sua proposta e que não sabia da existência de consultas semelhantes às produtoras Sequência 1 e Mamute Filmes.

O cineasta também reclamou que recebeu apenas 60% do contrato após entregar todos os filmes. E só recebeu os 40% restantes em dezembro do ano passado, quando a Fundação e o IBGC estavam sob direção de Pedro Dallari — que já pediu exoneração do cargo.

Após uma discussão sobre o questionamento das testemunhas e investigados, a pedido do vereador Alfredinho (PT), que integra a comissão, os outros convocados foram retirados do plenário onde estava ocorrendo a sessão. Patrícia Mello, José Luiz Herência e William Nacked foram conduzidos a uma sala contígua.

Depois do depoimento de Venturi, Herência e Nacked, que admitiram participar de um esquema que desviou R$ 15 milhões dos cofres da Prefeitura e assinaram com o Ministério Público do Estado delações premiadas, contestaram as falas do cineasta. Segundo eles, Briguglio teria pedido os filmes institucionais e indicado que Venturi era a pessoa indicada para fazê-los. Numa reunião em que se definiram como seriam os filmes, o secretário de comunicação da Prefeitura teria apresentado o diretor.

Herência disse ainda que não haveria concorrência. E que a participação da Sequencia 1 e da Mamute na consulta seria “uma fachada”.

Patrícia Mello foi a última a ser ouvida pela CPI, mas não assinou o “termo de compromisso” de falar a verdade e nem respondeu às perguntas, sob orientação de seu advogado, Eduardo Carnelós. Após uma discussão envolvendo os integrantes da CPI e Carnelós, o presidente da comissão, vereador Quito Formiga (PSDB), dispensou a mulher de Neschling.

O vereador Ricardo Nunes (PMDB), um dos mais ativos integrantes da comissão, disse que a CPI será retomada no dia 14 de setembro, com a convocação, por meio de condução coercitiva, do maestro Neschling para acareação com Neschling e Herência.

— Vamos tentar derrubar o indeferimento na Justiça — disse ele.