Cotidiano

Cidades inteligentes dependem de bom planejamento estratégico

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XANGAI, China – Qualquer cidade que pretende se tornar ?inteligente? deve, antes de pensar em tecnologia, recorrer à população para entender quais soluções são de fato necessárias, afirmou nesta quinta-feira o diretor executivo tecnológico do segmento de empresas da Huawei, Joe So. Na visão do executivo, embarcar na aventura da chamada smart city pode se revelar uma ?estupidez? sem o devido planejamento estratégico.

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? É uma estupidez lançar soluções que se propõem inteligentes, mas que não atendem às necessidades dos cidadãos. Sempre que alguma cidade me procura, eu recomendo: faça primeiro uma pesquisa para avaliar onde há demanda para as soluções ? afirmou o executivo, que citou a Accenture como parceira

A Huawei afirma prover parte da tecnologia necessária para as chamadas soluções de smart cities em mais de cem cidades em 40 países, incluindo os latino-americanos Brasil, México, Equador e Venezuela. A companhia chinesa vende, por exemplo, aparelhos para medição automatizada da distribuição de energia (parte de outra expressão da moda nesse mercado, o smart grid) e equipamentos para data centers dedicados a sistemas de cidades inteligentes.

Joe So aproveitou para destacar que as cidades precisam entender que a colaboração entre diversas fornecedoras de tecnologia é uma das condições para a smart city. A companhia afirma ter 10 mil parceiros, sendo 400 no segmento de soluções.

? Nenhuma empresa no mundo é capaz de entregar uma solução completa de smart city. Se alguém te falar isso, está mentindo ? observou o executivo. ? A smart city não vai surgir do nada, há muitos avanços necessários. Apesar de várias previsões de muitos anos atrás sobre a proximidade da cidade inteligente, nada aconteceu até três anos atrás, por exemplo. Isso porque a conexão ainda não estava pronta. Não havia 3G massificado, nem 4G.

Joe So citou como outro obstáculo que ainda existe na implementação da smart city a profusão de padrões tecnológicos nesse segmento.

? Há muitos padrões ainda, e estamos em processo para harmonizá-los. Participamos de centenas de organizações para podermos participar dessa padronização ? disse.

A smart city é mais uma das partes da estratégia da Huawei para a computação na nuvem, o conceito de armazenamento, processamento e transmissão de dados e softwares por meio da internet. A companhia chinesa é conhecida como a maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo, mas este ano escolheu a chamada cloud computing como a estrela de seu evento Connect 2016, que reúne 20 mil participantes em Xangai.

O conceito já existe há mais de uma década e vem se tornando um padrão nessa indústria por meio de serviços como o Amazon Web Services e o Azure, da Microsoft. Parte da imprensa especializada observou que a Huawei está chegando, aliás, atrasada nesse mercado. Mas a gigante de Shenzhen prefere dizer que, até agora, o que existiu foi a Cloud 1.0, marcada pela adoção da nuvem por empresas que nasceram na internet. O que a Huawei diz que vem pela frente é a Cloud 2.0, que é sua disseminação por todos os setores. De acordo com a Huawei, apenas 20% das aplicações atualmente são baseadas em computação em nuvem, enquanto a expectativa é que elas sejam 85% em 2025.

? Na Cloud 2.0, as empresas tradicionais também poderão usar a nuvem para renovar seus modelos de negócio. Nos últimos 15 anos, as companhias de internet já consolidaram boas práticas (de computação em nuvem) que podem servir de guia para esses outros setores ? disse Eric Xu, um dos três diretores executivos rotativos da Huawei.

Segundo Xu, a Huawei viu uma oportunidade neste momento de migração das empresas para a nuvem. Para o executivo, o diferencial da companhia na disputa com empresas de internet consolidada é a experiência no mercado enterprise:

? Nossa força está na industry cloud. Você precisa ter um bom conhecimento dos negócios dessas empresas, sem isso é impossível entregar uma solução de computação na nuvem. Quando decidimos entrar no negócio de enterprise há alguns anos, ganhamos conhecimento da verticalização da indústria. Isso nos permitiu conhecer esse mercado, e esse é o nosso diferencial com relação a empresas de internet.

No mercado enterprise, a Huawei aproveitou o evento Connect para anunciar uma parceria com a fabricante de elevadores Schindler, que tem 15 milhões de seus produtos espalhados pelo mundo. A companhia chinesa criou uma plataforma para monitorar remotamente os elevadores por meio de um aparelho de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) que enviará para a nuvem dados sobre as máquinas e permitir previsões sobre danos e necessidade de manutenção.

*O repórter viajou a convite da Huawei