Cotidiano

Champagne e planos para o futuro na festa da vitória dos democratas na Câmara

BRASÍLIA ? A volta dos democratas à primeira divisão da política nacional ? com a vitória do deputado Rodrigo Maia (RJ) para a presidência da Câmara pelos próximos dois anos ? foi celebrada com muito champagne em um restaurante chique às margens do Lago Paranoá, com a presença de ministros, parlamentares e integrantes da nova Mesa. Nas varandas e no interior do Le Jardin du Golfe, os desdobramentos da Operação Lava-Jato eram mencionados como algo imponderável, mas nada capaz de frear os planos dos democratas para atingir novos degraus.

No horizonte, cenários a serem ocupados pelo partido e pelo novo líder Rodrigo Maia incluíam, por exemplo, a disputa pelo governo do Rio de Janeiro. Com o ?terremoto? que jogou o estado na maior crise política e econômica dos últimos tempos, avaliam os integrantes do DEM, Rodrigo pode ser a peça chave para aprovar medidas de socorro e se credenciar para ocupar espaços deixados com o derretimento do PMDB do ex-governador Sérgio Cabral, preso em Bangu.

? Se o Rodrigo fizer as reformas, e elas forem promulgadas, ele vira o grande líder nacional do Rio de Janeiro. Rodrigo é a renovação ? dizia o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).

E a nova estrela do Democratas exibiu um figurino jovial e bem carioca em sua festa. Despido do terno e gravata, Maia chegou pouco depois que os convidados, com a mulher e as filhas, usando uma camiseta Ralph Lauren azul clara, calça jeans e “sapatênis”. Nas conversas mais reservadas, com amigos, Rodrigo não fugiu à possibilidade de alçar voos mais altos na política em 2018.

? Se o Rio melhorar a situação até lá, a disputa pelo governo fica atraente . Se não melhorar, o melhor é disputar o Senado. Mas acho que até 2018 melhora ? dizia.

Fazendo as vezes de anfitrião, o deputado Pauderney Avelino (AM), líder do DEM, e o presidente do partido, José Agripino Maia (RN), recebiam os políticos na entrada do restaurante com uma taça de vinho tinto Alamos Malbec entre os dedos. Pauderney comemorava uma vitória particular, ao se fortalecer na liderança depois de garantir a vitória de Rodrigo no primeiro turno.

? Com a mudança de patamar do Democratas, se quisermos, a bancada pula de 30 para 40 deputados fácil. A janela para mudança é só em 2018, mas quem já mudou de partido pode mudar de novo sem cair na regra da infidelidade ? comentou Agripino Maia.

Outros parlamentares comentavam os desdobramentos da disputa na base entre Rodrigo e Jovair Arantes (PTB), que teve menos votos do que o esperado.

? Não foi falta de alertas. E olha que lhes ofereceram alternativas, mas ele resolveu pagar para ver e saiu pequenininho da disputa ? disse o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI).

Um dos primeiros políticos a chegar foi o novo todo-poderoso Fábio Ramalho (PMDB-MG), ex-prefeito de Malacacheta, uma mistura de matuto bonachão e contador de causos azarão, que tomou o lugar do deputado Lúcio Vieira Lima (BA) e, de mansinho, bem no estilo mineiro, se elegeu para a primeira vice-presidência da Câmara. Nas rodinhas de conversa, deputados e senadores faziam suas apostas: o peemedebista terá desempenho menos polêmico que Waldir Maranhão (PP-MA) à frente da Câmara?

Com dois micro-celulares nas mãos, usados só para ligações e sem internet, ?Fabinho Liderança?, como é chamado, dizia que smartphones ?é trem do capeta? e que não sabe o que é e-mail. A comunicação por e-mail ou Whatsapp é feita pela secretária. Sus histórias giram sempre em torno de comida. Ele confessa que sua vitória se deve a micropolítica dos jantares de toda quarta-feira, por onde passam deputados do baixo ao alto clero. Com o jeitão de mineiro do interior, se divertia com o aumento do assédio de políticos e jornalistas e contava histórias em sequência, arrancando gargalhadas dos ouvintes. Contou que sempre faz muita comida, porque tem 18 irmãos e, em sua casa, só se cozinhava em panelas gigantes. As mesmas panelas que ele várias vezes levou ao plenário com pratos da cozinha mineira.

? As panelas renderam (a vitória), mas é porque faço com carinho ? dizia, admitindo que ganhou os deputados pela barriga.

À curiosidade dos jornalistas sobre a fama de que, nesses jantares, ele oferecia aos deputados mais do que leitão a pururuca, Fabinho jurava que seus comensais são quase sempre homens.

? É mentira! O Zé Múcio foi num jantar lá em casa e quando chegou perguntou: cadê as mulheres? Isso aqui está parecendo quermesse de quartel, só tem homem! Quando inventaram essa história, as moças bonitas eram a (ministra) Ana Arraes e a (deputada) Jô Moraes ? garantiu Fabinho, rindo muito e dizendo que nunca se casou porque é gordo e passou da idade.

O sucessor de Waldir Maranhão foi à festa de Rodrigo Maia, alegrou as rodas de conversas e saiu apressado, porque em seu apartamento as panelas já estavam no fogo para a janta que serviria a seus convidados. Diferente do ambiente sofisticado, a “festa da vitória” do segundo homem mais importante no comando da Câmara aconteceu em mesinhas espalhadas pela sala do apartamento funcional, ao som da dupla sertaneja Jorge e Mateus, em um vídeo exibido na TV. No lugar de camarões, linguinis, filés e profiteroles com sorvete do cardápio da festa do Democratas, pratos de feijão tropeiro, porco assado, linguiça de porco com pimenta e pé de moleque trazidos de Malacacheta.

? Em 2008, o Michel Temer só ganhou a eleição da Câmara porque fiz uns 30 jantares aqui para ele. Era considerado metido e antipático. Eu lhe disse: se você seguir minha cartilha, você ganha do Aldo e do Ciro Nogueira. Se não fosse eu, ele não ganhava não ? contou.

Michel Temer é tão grato a Fabinho que o levou em sua primeira viagem como presidente, para a China. Encheu a cozinha do boeing presidencial com quatro queijos de Minas, quatro goiabadas, farofa e a famosa leitoa a pururuca com acompanhamentos.

? Já começamos a comer já logo na saída. Viajei nesse boeing com Lula, Dilma e Temer. Lula reclamava que eu sujava o avião dele com farofa ? conta o novo vice-presidente da Câmara.

Outro deputado do PP que conseguiu a atenção do presidente Rodrigo Maia na festa do Democratas foi André Fufuca (MA), novo segundo vice-presidente da Câmara. Perguntado se ser alçado à Mesa Diretora da Casa poderá lhe trazer problemas, olhou para o céu e disse, rindo:

? Pelo amor de Deus, não.

Convidado para a festa da vitória, segundo um deputado democrata, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que perdeu para Fabinho Liderança, declinou. Enquanto Lúcio teve sua candidatura oficial garantida pelo líder Baleia Rossi (PMDB-SP), na disputa acirrada com o deputado José Priante (PMDB-PA), Fabinho correu pelas beiradas, lançou candidatura avulsa e ganhou de lavada no plenário.

? Nem morto, não quero ficar no meio daqueles traíras me cumprimentando ?disse Lúcio, segundo o deputado democrata.