Cotidiano

Chalita, de pupilo de Temer a vice de Haddad

SÃO PAULO. Gabriel Chalita, de 47 anos, ganhou destaque pela capacidade de transitar entre as diferentes forças que polarizam a disputa política no país. Já foi tido como aposta eleitoral do PSDB e esperança de renovação do PMDB em São Paulo. No começo deste ano, mudou de partido pelo terceira vez em sete anos para ser o vice do petista Fernando Haddad na disputa pela reeleição na capital paulista.

Pelas mãos do amigo Michel Temer, então vice-presidente, que lhe garantiu a legenda para disputar a prefeitura, Chalita ingressou no PMDB em 2011. Os dois se aproximaram quando o o presidente interino foi seu professor na PUC-SP. Chalita chegou a dedicar a Temer o livro “Sócrates e Thomas More – Correspondências Imaginárias”, um dos mais de 60 obras que escreveu.

Na eleição de 2012, ficou em terceiro lugar e, no segundo turno, declarou apoio a Haddad contra José Serra (PSDB). Com a vitória do petista, indicou a sua amiga Luciana Temer, filha do vice-presidente, para participar do governo. Haddad nomeou Luciana secretária de Assistência Social, cargo que ela ocupa até hoje.

Em 2015, Haddad decidiu ter o próprio Chalita no primeiro escalão de sua gestão. A nomeação para a Secretaria da Educação tinha o objetivo garantir o apoio do PMDB na disputa pela reeleição.

A entrada no governo fez com que Chalita se aproximasse muito de Haddad. O secretário se tornou amigo e frequentador da casa do prefeito. Um dirigente petista conta que hoje Chalita é uma das pessoas que Haddad mais ouve na política.

A relação fez com que o prefeito invertesse uma das práticas comuns da política brasileira: escolheu o seu vice antes de saber por qual partido ele poderia compor a chapa. Com o rompimento entre PT e PMDB no plano nacional, Chalita precisou buscar uma legenda para estar junto com o amigo na eleição deste ano. Chegou a bater à porta da Rede de Marina Silva, mas acabou ingressando no PDT, em março. A saída do PMDB não o afastou de Temer. Os dois mantêm conversas frequentes por telefone.

Petistas acreditam que Haddad escolheu Chalita para vice porque, se for reeleito, deve tentar voos políticos mais altos em 2018 (governo do estado ou até a Presidência da República) e deixar o cargo antes do final do mandato. Se essa previsão se confirmar, o amigo do petista viraria prefeito da maior cidade do país.

Além das trocas partidárias, Chalita, de 47 anos, é famoso pelo ritmo frenético com que consegue publicar livros. Ele conta que sua primeira obra foi escrita aos 12 anos. De lá para cá, sua produção é de mais de um livro por ano, o que lhe valeu a nomeação para a Academia Paulista de Letras. Costuma frequentar os eventos da instituição ao lado da amiga Lygia Fagundes Telles. Em meio à intensa produção literária, ainda conseguiu fazer dois doutorados, em direto e semiótico.

Alguns de seus livros se tornarem best sellers, como o “Carta entre Amigos”, que escreveu em parceria com o padre Fábio de Melo. Para os críticos, sua obra é de auto-ajuda, rótulo que rejeita. Ele atribui as avaliações negativas de sua produção a uma ação do ministro das Relações Exteriores, José Serra. Chalita acredita que passou a ser hostilizado pelo tucano em 2006, quando se declarou a favor de Geraldo Alckmin, de quem é amigo e foi secretário de educação entre 2003 e 2006, na disputa interna do PSDB para candidato a presidente naquele ano. Ele afirma que saiu do PSDB, partido pelo qual havia sido eleito o vereador mais votado de São Paulo em 2008, por causa de Serra.

Ex-seminarista, mantém até hoje proximidade com a Igreja Católica. Por anos, teve um programa na emissora católica Canção Nova, sediada em sua cidade natal, Chachoeira Paulista, no Vale do Paraíba. Foi na emissora, em 2009 que ele conheceu a presidente afastada, Dilma Rousseff, e iniciou a mudança mais radical na sua trajetória política.

— Foram dois dias de evento. Um dia foi o Serra, que chegou atrasado e atrasou a missa. A Dilma, ao contrário, chegou cedo. Passou o dia todo lá. Quis almoçar com o fundador da Canção Nova. Gostei dela. Começamos a trocar e-mails — contou, certa vez.

A partir desse encontro, Chalita, que ainda estava filiado ao PSDB, decidiu que iria apoiar a petista na disputa presidencial do ano seguinte. Por intermédio de vereadores do PT, se aproximou de Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete de Lula e também ligado à Igreja Católica. Como seria muito radical pular do PSDB para o PT, acabou se filiando ao PSB, que na época fazia parte da base governista. Em 2010, se elegeu deputado federal escolhido por 560.022 eleitores, a terceira maior votação do país. Chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Educação, mas a ideia não vingou. (colaborou Mariana Sanches)