ISTAMBUL ? Uma celebridade turca e mais 28 pessoas, em sua maioria jornalistas, foram levadas a julgamento nesta segunda-feira em Istambul, sob suspeita de envolvimento no golpe de Estado fracassado do ano passado contra o presidente Recep Tayyip Erdogan. Se condenados, os acusados podem pegar até dez anos de prisão por fazer parte, segundo o governo, de uma organização terrorista armada. Este é mais um episódio na série de expurgos conduzida por Ancara, na tentativa de punir e reprimir os insurgentes que tentaram tomar o poder em julho.
O cantor Atilla Tas, além de ser considerado um pop star na Turquia, trabalhava como colunista no jornal ?Meydan daily?. Em seus textos, não economizava em críticas ao partido de Erdogan. A publicação foi um dos 160 veículos de comunicação fechados após a tentativa de golpe no ano passado, e muitos dos seus colunistas foram alvo da repressão do governo. Além disso, a celebridade se tornou um fenômeno de popularidade no Twitter e usava a rede social para publicar sátias sobre o presidente.
Segundo o ?Turkish Minute?, Tas foi detido no ano passado sob acusações de terrorismo, embora sem evidências, e chegou a se casar dentro da prisão.
É crime na Turquia insultar o presidente e a nação, e muitas pessoas já foram processadas por isso. Esta legislação já existia bem antes de Erdogan chegar ao poder como primeiro-ministro em 2003, mas as críticas à regra se intensificaram na última década. O governo turco tenta virar um membro da União Europeia e, para isso, o bloco pede a garantida da liberdade de expressão no país.
Grupos de direitos humanos afirmam que o governo turco já prendeu cerca de 150 jornalistas ? e muitas das detenções aconteceram antes mesmo da tentativa de golpe, sob acusações de supostos laços entre os jornalistas e os rebeldes curdos que combatem o governo de Ancara. Em seu relatório anual de 2016, a ONG Repórteres Sem Fronteiras colocou a Turquia no 151º lugar do seu ranking que avalia a liberdade de imprensa em 180 países.
A comunidade internacional aponta que o governo turco tem se tornado mais autoritário, sobretudo, em reflexo da onda de repressão de Erdogan ? que, no total, já deteve 41 mil pessoas. O presidente atualmente faz uma campanha para que os turcos aprovem, em referendo marcado para abril, uma reforma para expandir os seus poderes. Se as mudanças passarem, ele poderá ficar no poder até 2029.