WASHINGTON – Apesar do pessimismo que tomou as primeiras horas após o Brexit, Gary Clyde Hufbauer, economista do Peterson Institute for International Economics, minimizou o impacto da saída do Reino Unido da União Europeia. Em sua opinião, haverá uma pequena queda na taxa de crescimento da economia mundial a curto prazo. Ele afirma que os problemas financeiros serão sentidos, mas que o maior risco é um efeito dominó, que leve outros países a adotarem, com plebiscitos, a saída da União Europeia ou outras políticas antiglobalização, que poderiam ser devastadoras.
O economista, que já foi vice-secretário para Comércio Internacional e diretor da Equipe Fiscal Internacional do Tesouro americano, acredita que Canadá e Estados Unidos podem se beneficiar exportando produtos para a Europa, ocupando a lacuna dos britânicos, dependendo do acordo que negociarão neste divórcio com o continente. Para o Brasil, ele vê mais dificuldades nas negociações com os europeus, embora acredite numa tendência de maior abertura com os ingleses.
O impacto do Brexit pode ser comparado à crise global de 2008?
Eu penso que terá um impacto negativo, mas não será nada parecido com o que foi a quebra do Lehman Brothers (em 2008, que marcou o início da crise financeira global). O Brexit vai criar problemas, mas não será um desastre para o sistema financeiro global. É um golpe, mas que terá impactos diferenciados. Este impacto será, claro, maior na economia do Reino Unido, e importante na União Europeia. Além da volatilidade, o Brexit vai reduzir um pouco o crescimento econômico no resto do mundo, que já está em um cenário desfavorável, de fraco crescimento global. Assim, apenas o Brexit tende a ter um impacto relativamente pequeno em todo o mundo. O grande impacto pode ocorrer se tivermos mais referendos, mais países tentando sair da União Europeia. Isso pode gerar crises de instabilidade e afetar os bancos. O pior impacto ocorrerá se outros países começarem a realizar plebiscitos para a saída da União Europeia, em um efeito dominó, ou ainda outros países realizarem plebiscitos (para aprovar medidas antiglobalização). Este efeito dominó pode não ser rápido e não ocorrer apenas na Europa, mas em outras partes do mundo. Mas precisamos de tempo para saber se isso acontecerá.
Quanto tempo pode durar a instabilidade?
Não será uma instabilidade de décadas, mas de alguns anos. Ainda é difícil fazer uma previsão exata de prazos, pois há muitas incertezas sobre como será o processo de desligamento do país. Como serão as negociações entre europeus e britânicos? Quanto os europeus vão querer ceder aos britânicos? E vai depender de quanto tempo os britânicos precisarão para fazer acordos com outros países pelo mundo. Ainda há muita incerteza sobre os próximos passos.
E quais países podem ocupar o espaço do Reino Unido na venda de bens para a União Europeia?
Isso depende muito dos termos que os britânicos conseguirão negociar nesta saída da União Europeia, mas alguns países vão tentar ganhar esse espaço. À primeira vista, os países que mais podem se beneficiar são o Canadá e os Estados Unidos. Mas isso ainda depende dos acordos comerciais que o Reino Unido fará com a União Europeia.
E o que acontecerá com Londres, hoje um importante centro financeiro global?
A situação ficou muito desfavorável para o setor financeiro londrino continuar o mesmo sem o acesso à Europa. Para onde este setor vai? A cidade com maior potencial, em um primeiro momento, é Frankfurt (sede do Banco Central Europeu e principal cidade financeira da Alemanha). Mas, na verdade, são duas opções: Frankfurt e Paris. A capital francesa tem algumas vantagens: está muito perto de Londres, acessível por trem, e é um cidade mais agradável para viver do que Frankfurt. Estas devem ser as duas cidades que mais ganharão com a perda de importância de Londres.
Como o Brexit afetará os mercados emergentes?
Eu penso que, neste primeiro momento, todas as economias estão sendo afetadas, de alguma maneira, pelo choque de instabilidade e pela volatilidade financeira. Todos estão sofrendo agora. A longo prazo, tende a ficar mais complexo para a União Europeia assinar acordos comerciais com o Brasil ou com o Mercosul. Assim, ficará mais difícil para o Brasil negociar produtos agrícolas. Novos acordos serão uma questão mais complexa para a Europa, em todos os sentidos, não apenas com o Brasil. Já o Reino Unido, por sua vez, poderá ter uma postura mais favorável a acordos comerciais, e os emergentes, como o Brasil, podem se beneficiar disso. No fim das contas, os aspectos negativos tendem a ser maiores que os positivos para os países emergentes.