BRASÍLIA – A cúpula do PSDB recebeu com ironia as declarações do vice-governador de São Paulo, Márcio França, que em entrevista ao GLOBO, saiu atirando para reagir as articulações para que um tucano, e não ele, dispute o cargo de sucessor de seu aliado Geraldo Alckmin. Os caciques tucanos estão furiosos com críticas do socialista à recondução do senador Aécio Neves (MG) por mais um ano na presidência do PSDB, mas principalmente com o ?ultimato? dado por ele: se o PSDB quiser chegar a presidência, o candidato tem que ser Alckmin.
Em resposta, dirigentes do PSDB trataram Márcio como uma figura menor, sem expressão local e nacional, que virou um ?plantador? de notas para intrigar Alckmin com o partido. ?O melhor serviço que ele pode prestar á candidatura do Geraldo a presidente da República é dar uma declaração pública de que não é candidato a reeleição e que apoiará qualquer candidato que o PSDB escolher para o governo de São Paulo, e não ficar atacando o PSDB para defender seus interesses?, desabafou um dos membros da Executiva nacional do PSDB.
? Quando eu li a entrevista do Márcio França hoje no GLOBO me veio a cabeça um ditado antigo: cada macaco no seu galho. Notei na entrevista uma certa sofreguidão, um desejo imoderado de condicionar a candidatura do PSDB a presidência ao seu interesse de vir a ocupar a cadeira do governador Alckmin ? reagiu o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Os tucanos dizem que ?Márcio França não existe?, não é uma força competitiva em São Paulo nem no governo. ?Ninguém nem sabe que ele é o vice-governador?, rechaçam.
? Ele se julga um grande líder político ? ironizou o vice-presidente do PSDB, o ex-governador Alberto Goldman.
Na entrevista o vice-governador Márcio frança minimiza a força política do ministro das Relações Exteriores José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Goldman e Aloysio. Diz que eles tem prestígio, mas quem tem votos em São Paulo é Alckmin. Diz também que o PSB não apoiará outro candidato tucano que não seja Alckmin. E por fim, criticou a recondução de Aécio, dizendo que no PSB isso não aconteceria sem uma discussão prévia.
Em resposta, os tucanos dizem que o ?PSB é um cartório? e que Márcio França adota a pior prática para comandar o partido em São Paulo.
? Acho que o senhor Márcio França não é a pessoa mais indicada para dar lições de democracia partidária ao PSDB, uma vez que em São Paulo, o PSB que ele dirige, tem 580 comissões provisórias, órgãos de direção do partido não eleitas pelas bases.
Dirigentes do PSB já vem alimentando um descontentamento com Márcio França há algum tempo. Na eleição municipal em São Paulo dizem, nomes competitivos do PSDB foram preteridos para que candidaturas do PSB ocupassem cabeça de chapa, em função de articulações do vice-governador junto a Alckmin.
Há desconfiança também, do grupo de Aécio, que o principal aliado de Alckmin atuou em Belo Horizonte, junto com o prefeito Márcio Lacerda, para enfraquecer o candidato tucano João Leite e carimbar uma derrota do senador . Lacerda ficou neutro no segundo turno e Antônio Kalil, do PHS, derrotou o candidato de Aécio.