Cotidiano

Cacique do PMDB-RJ e alvo da operação, Jorge Picciani vive em polêmicas

65683742_Rio de Janeiro - O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro Alerj Jorge Picci.jpgRIO ? Conduzido coercitivamente nesta quarta-feira, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Jorge Picciani, é o último nome forte do PMDB do Rio a entrar na mira da Polícia Federal (PF). O alvo desta vez é o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), na ação batizada como “O quinto de ouro”. A delação premiada do ex-presidente do órgão Jonas Lopes de Carvalho Filho levou a mandados de prisão contra cinco conselheiros em pelo menos dois esquemas de arrecadação de propina. Segundos os investigadores, eles fizeram vista grossa para irregularidades praticadas por empreiteiras e empresas de ônibus que operam no Rio. Na ocasião, a PF ordenou a condução de Picciani para depor.

Não é a primeira vez, no entanto, que Jorge Picciani aparece em investigações judiciais. Citado em delações premiadas, o deputado estadual se viu envolto em polêmicas de favorecimento de empreiteiras, em troca de negócios escusos com suas próprias empresas, e pedidos de propina para campanha eleitoral.

Em delação premiada, a ex-diretora financeira da Carioca Engenharia Tânia Fontenelle detalhou à polícia que a companhia Agrobilara, do presidente da Alerj, havia vendido vacas por um preço bem acima do valor de mercado para a empreiteira. O deputado alegou que os outros animais vendidos no leilão eram do “fundo do plantel”, e não de elite, com melhoramento genético, como os negociados com a empreiteira. Especialistas, no entanto, sustentam que o gado de menor valor vai direto para o abate. O Ministério Público Federal (MPF), que já investiga se as vacas de Picciani são ou não superfaturadas, poderá mostrar o verdadeiro DNA dos negócios de suas empresas de agropecuária.

Cabral

O empresário Ricardo Pernambuco Júnior, diretor e acionista da Carioca Engenharia, revelou ao MPF, em delação premiada, que comprou 160 cabeças de gado da Agrobilara, por R$ 3,5 milhões, entre 2012 e 2013. O valor acertado, segundo ele, estava acima dos de mercado, razão pela qual Picciani devolveu R$ 1 milhão por fora e ficou com o restante.

Em abril do ano passado, reportagem de Chico Otávio e Luiz Gustavo Schmitt mostrou que a sede da Agrobilara era palco de encontro entre fiscais do ICMS Rio e empresário envolvido em fraude. Os agentes chefiavam as inspetorias de fiscalização de Supermercados, Bebidas e Substituição Tributária. Um quarto visitante era Arnaldo Kardec da Costa, contador e braço direito do empresário Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, cuja trajetória é marcada por suspeitas de envolvimento em casos de fraudes tributárias.

Picciani e Walter Faria, para quem Kardec trabalha, são amigos e parceiros de negócios. As fazendas do deputado, a maioria em Minas Gerais, não são fiscalizadas pelas três inspetorias, ao contrário da fabricante da cerveja Itaipava, cuja dívida no Estado do Rio, contraída somente pelas distribuidoras do grupo, superava R$ 1 bilhão no ano passado.

O condomínio O2 Comfort & Offices, na Barra da Tijuca, ainda registrou a entrada de dirigentes de três empreiteiras envolvidas na Lava-Jato, entre 2014 e 2015. Alberto Quintaes, da Andrade Gutierrez, foi o mais frequente, com 55 idas à firma. Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, também da Andrade, esteve quatro vezes na Agrobilara, e Ricardo Backheuser, o Ricardo Pernambuco da Carioca Engenharia, também visitou a empresa quatro vezes. Reginaldo Assunção Silva, da OAS, compareceu em 15 ocasiões.

Em setembro de 2016, o Ministério Público reabriu um inquérito que investiga enriquecimento ilícito do presidente da Alerj. Picciani teria leiloado embriões de gado por valores milionários, entre 2003 e 2015, a fornecedores e prestadores de serviços do governo do estado. O deputado nega qualquer irregularidade nos leilões.

Dois meses depois, Picciani aparecia na delação do engenheiro Benedicto Barbosa Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura e braço-direito do empreiteiro Marcelo Odebrecht ? segundo quem o presidente da Alerj havia pedido propina em três campanhas eleitorais. O deputado alegou que todas as doações recebidas foram “espontâneas” e devidamente declaradas à Justiça Federal.