Buenos Aires – O Banco Central da Argentina elevou nessa sexta-feira (4) a taxa básica de juros de 33,25% para 40% ao ano. A instituição havia aumentado os juros na quinta-feira (3) e na sexta-feira passada (27) com o objetivo de frear um quadro de maior demanda por dólares e desvalorização do peso. Assim, em uma semana a taxa subiu 12,75 pontos percentuais. Antes do início das medidas, estava em 27,25%.
Na Argentina, o dólar se valorizou mais de 30% ante o peso nos últimos 12 meses. O movimento cambial na Argentina é atribuído em parte ao quadro internacional, com a elevação gradual dos juros nos Estados Unidos, mas também a desequilíbrios da economia nacional, em um quadro de alta inflação.
Nos últimos dias, o BC tem atuado bastante no mercado cambial, vendendo dólares, mas ainda sem conseguir frear o movimento de enfraquecimento do peso.
Contas públicas
A equipe econômica da Argentina anunciou um conjunto de medidas para tentar conter a disparada do dólar em relação ao peso, incluindo a elevação dos juros para 40% e a redução da meta de déficit fiscal. Em coletiva conjunta na Casa Rosada, o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, e o ministro de Finanças, Luis Caputo, disseram ter segurança de que essas modificações manterão a Argentina na rota de crescimento.
"Dependendo da duração desses juros altos, haverá um impacto no nível de atividade da economia, mas será menor do que o que haveria se nós ficássemos de braços cruzados", disse Dujovne.
A ação forçou o dólar a cair na abertura do pregão em Buenos Aires, passando de 22,24 pesos para a mínima de 21,01. No entanto, a moeda americana já volta a mostrar alguma recuperação. No comunicado sobre o aperto monetário, o BC reiterou que pode voltar a intervir, se necessário.
Medidas adotadas
No conjunto de medidas anunciadas ontem, além da elevação de juros, o governo decidiu reduzir a meta de déficit fiscal para 2018 de 3,2% para 2,7%. As metas de inflação, no entanto, não foram alteradas: para este ano, é projetada uma inflação de 15%, para 2019, de 10% e, para 2020, de 5%.
Em meio a esse cenário, a Fitch reafirmou o rating B da Argentina e alterou a perspectiva dele, de positiva para estável. Segundo a agência, a nota reflete a alta inflação e a volatilidade econômica do país, sua posição de liquidez externa "fraca, embora melhorada" e os grandes déficits fiscal e de conta corrente, o que implica uma forte dependência de empréstimos do exterior.
"Essas fraquezas são contrabalançadas por forças estruturais, entre elas uma alta renda per capita, uma economia grande e diversificada e melhores níveis de governança".
A Fitch espera que a inflação na Argentina desacelere para 23% em 2018 e 16,5% em 2019, com um risco adicional por causa da recente desvalorização do peso. O déficit em conta corrente atingiu 4,8% do PIB em 2017, "o mais alto nível em décadas". Nesse quadro, a consolidação fiscal aparece como uma prioridade política no país neste ano, diz a agência.