A Globo já vem experimentando a TV Everywhere há algum tempo, com o Globo Play. Com base nessa experiência, é possível notar alguma diferença entre os hábitos de consumo de vídeo on-line e da TV linear?
Sim! A TV linear dá a impressão de hora marcada para assistir. Isso é muito importante para eventos esportivos, o próprio jornalismo, com coberturas factuais, e a programação ao vivo. No nosso caso, a novela também é muito importante, por causa do ritmo diário. Perder um capítulo faz com que o espectador fique desatualizado. Elas também são geradoras de conversa virtual, o consumo simultâneo permite que as pessoas conversem em tempo real. Os reality shows e outros programas interativos também têm bastante apelo na TV linear. Esses elementos tornam, e vão continuar tornando consumo linear da televisão muito importante.
Agora, existem outros tipos de consumo. As séries, por exemplo, podem passar por uma experiência de consumo diferente, com o espectador aproveitando o tempo livre para assistir. Nós já conseguimos observar isso. Para esse tipo de conteúdo, no qual o consumo linear não é essencial, a gente percebe as pessoas se interessando pela transmissão on-line
O formato de programa consagrado da TV linear tem se mostrado compatível com o ambiente on-line?
Totalmente. Eu acho que existe uma regra muito válida para a indústria. Quanto maior for o tempo de duração do conteúdo, maior será a tela onde ele será consumido. Uma cena de novela ou uma reportagem do telejornal combinam bem com os smartphones. Mas se quiser assistir o capítulo inteiro de uma novela, o consumidor vai procurar uma tela maior. Aí entram as smart TVs. Quatro anos atrás, o mundo acordou para a importância do smartphone, agora está acordando para a smart TV. A gente tem cerca de 500 mil downloads para smart TVs no Google Play, e o tempo que as pessoas levam assistindo é muito maior que no computador e no smartphone. O consumo médio em cada sessão é de 45 minutos, mais ou menos um capítulo de novela.
Nunca se assistiu tanto vídeo na história da Humanidade. Isso é fato. Mas como conseguir alcançar a audiência em meio a tanta concorrência?
Não tem nenhum segredo: é o valor do conteúdo. As pessoas vão ter mais interesse no conteúdo que tem mais relevância. Isso vai variar de acordo com o gosto da audiência. Varia para os diferentes públicos, de diferentes idades, regiões, mas essencialmente é o valor que ele apresenta para o consumidor. O Twitter, por exemplo, tem uma ferramenta de transmissão ao vivo que não pegava. Qual o interesse do consumidor para um garoto que faz uma transmissão do seu dia a dia? Talvez interesse para os amigos, os vizinhos, os familiares, mas só. Nesse sentido, o Twitter assinou acordos com a NHL e MLB para acrescentar valor para o ao vivo.
Já que tocou neste ponto, a entrada de plataformas digitais, como Twitter e Facebook, entrarem no campo das transmissões ao vivo pode aumentar a concorrência para as emissoras de TV?
Eu acho que tudo traz concorrente para a TV. Os produtos de mídia, todos enfrentam um cenário de grande concorrência. É a concorrência por atenção, não apenas de veículos dentro da própria categoria. Hoje, nós, da TV Globo, vocês, do jornal O GLOBO, o pessoal das plataformas digitais, todos disputam pela atenção do consumidor. Ele continua tendo 24 horas por dia, precisa estudar, trabalhar, ficar com a família, dormir. Mas cada vez mais criamos novas oportunidades de entrega de mídia para ele. O smartphone foi um game changer. Aumentou a possibilidade de consumo de mídia. No deslocamento para o trabalho, na fila de banco, no intervalo do almoço. As pessoas nunca consumiram tanta mídia quanto hoje, isso é bom. Por outro lado, nunca houve tanta concorrência por atenção nesse palco.