RIO ? São sete galerias a menos do que em 2015. As baixas incluem pesos-pesados como a londrina White Cube e a catalã Mayoral, que em 2015 apresentou um dos estandes mais visitados, repleto de obras de Dalí e Miró. O número de galpões também diminuiu. Eram cinco, ficaram quatro. E as exposições com curadoria foram canceladas. Mesmo assim, a organização da ArtRio diz que não se abateu com a crise econômica, e pretende mostrar isso a partir desta quarta-feira hoje, quando abre as portas de sua 6ª edição (para convidados; a abertura ao público será na quinta-feira, às 13h). Até domingo, 73 galerias, sendo 59 brasileiras e 14 estrangeiras, vão ocupar o Píer Mauá, no mesmo local das últimas edições, para comercializar obras de nomes consagrados e jovens artistas, com preços entre R$ 1.500 e R$ 8 milhões. ArtRio 2016
? Apesar desse cenário de crise, a gente pode ter uma resposta boa ? aposta Brenda Valansi, diretora da feira. ? Há muitas obras realmente de peso. A David Zwirner trouxe uma tela de Giorgio Morandi. A Fortes Vilaça tem uma instalação de Franz Ackermann. A Athena está com uma pintura de Chagall. E a Galeria de Arte Ipanema exibe uma escultura de parede especial do Sérgio Camargo. Quando você movimenta a venda de arte, movimenta toda a cadeia produtiva. E, num ano difícil como este, é mais importante ainda ver que a ArtRio provoca um movimento maior, com várias exposições sendo inauguradas pela cidade nesse mesmo período, já que a feira atrai colecionadores, curadores e turistas.
Entre as veteranas que permanecem na feira, a Fortes Vilaça, de São Paulo, chega ao Rio após uma experiência na última SP-Arte, em abril, que a sócia Márcia Fortes descreve como animadora:
? Sabemos que é um ano muito difícil para todo mundo, em todos os setores. Por isso fomos para a SP-Arte com uma expectativa baixa, mas vendemos 50% acima do que esperávamos ? diz ela, que irá inaugurar seu braço carioca, a Carpintaria, no dia 20 de novembro, no Jockey Club.
Para a feira de São Paulo, a Fortes Vilaça levou artistas jovens, como uma estratégia de comercialização. Mas, na ArtRio, Márcia diz que voltou a equilibrar os mais novos (como Cristiano Lenhardt) com nomes consagrados (caso do alemão Ackermann, que veio à cidade só para montar sua instalação, e de Ernesto Neto, que apresenta nova obra da sua série de mantos). A galeria terá ainda peças novas de Efraim Almeida e Lucia Laguna, e fotos recém-chegadas de Robert Mapplethorpe.
? A arte e a cultura são uma tábua de salvação. Sobrevivem em qualquer época ? diz a galerista.
Uma das 19 casas que participam neste ano pela primeira vez da ArtRio, a carioca Um Galeria, novíssima no mercado (foi inaugurada há um ano), também diz que estreia otimista. Entre suas apostas, está o ?Paneau em tons de azul?, de Roberto Burle Marx, com 3,3 metros de largura, que já chega comprada. A imagem da obra foi usada no convite digital enviado a colecionadores e amigos, e um deles negociou a peça antes mesmo da inauguração (o valor e o nome do comprador, porém, não foram revelados). A galerista Maria Cássia Bonemy manterá a obra no estande, no Armazém 4, ao lado de artistas jovens, como Roberto Freitas, que acaba de ser contemplado pelo programa Rumos, do Itaú Cultural.
? A galeria não pode ser um entreposto comercial. Cabe a ela abraçar novos artistas e promover a sua obra, mostrar ao público esse novo trabalho ? diz Maria Cássia, que também exibirá peças de Manfredo de Souzanetto e do paulistano Armarinhos Teixeira, atualmente com uma exposição na Fundação Brasilea, na Suíça.
VENDAS POR CONTAMINAÇÃO
Outra galeria carioca, a Artur Fidalgo, optou por apresentar, em seu estande, um projeto solo de um de seus artistas, José Damasceno. A estratégia foi bem-sucedida no ano passado, quando fez o mesmo com Fernando de la Rocque, e, segundo o galerista, reforça institucionalmente a casa.
? É inegável que a crise está aí, mas os colecionadores continuam comprando, ainda que numa proporção menor. Estou bastante esperançoso ? diz Fidalgo, que participa da feira desde a primeira edição, em 2011, quando o elevado da Perimetral ainda estava de pé e a área era um deserto.
Livre dos escombros e da poeira deixados pelo viaduto demolido em 2014 e após as obras que revitalizaram a região, a ArtRio se soma a um cenário já íntimo dos cariocas. A entrada entre os armazéns 1 e 2 dá acesso à feira de arte e à IDA, feira de design que ocupa metade do Armazém 4. Brenda Valansi convidou 50 colecionadores e consultores de arte, do país e do exterior, para o evento.
? A arte é um mercado que funciona na crise. Além de ser um investimento, ela trabalha com o desejo das pessoas, tem um valor agregado ? diz o consultor Danniel Rangel, brasileiro radicado em Paris, que veio ao Rio para o evento. ? E a arte brasileira ainda vive um bom momento. Basta lembrar que a Hauser & Wirth vendeu a obra ?Book of night and day?, de Lygia Pape (por US$ 2,8 milhões), na última Art Basel, em junho.
Diretora da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), que reúne 48 galerias, Luciana Brito insiste que o mercado vive um momento positivo, alavancado pelas vendas da SP-Arte:
? Estavam todos apreensivos com a crise, e foi um sucesso. Então, acho que na ArtRio teremos a mesma surpresa. Os colecionadores têm deixado para fazer compras nas feiras. É um momento em que as pessoas ficam contaminadas.
ArtRio
Onde: Píer Mauá ? Av. Rodrigues Alves, 10, Centro (entrada entre os armazéns 1 e 2).
Quando: Inauguração hoje, às 13h, para convidados. Qui. a sáb., das 13h às 20h; dom., das 13h às 19h.
Quanto: R$ 30.