Cotidiano

Arábia Saudita estuda cobrar imposto de renda de estrangeiros

DUABI – Estrangeiros na Arábia Saudita e seus empregadores locais mostraram descontentamento sobre uma proposta estudada pelo governo de cobrar imposto de renda de trabalhadores vindos de outros países, para compensar a queda nas receitas do petróleo. Cerca de um terço dos 30 milhões de habitantes do reino são estrangeiros. Muitos deles foram atraídos pela ausência de taxação e pelos salários mais altos do que poderiam receber em suas nações de origem

O plano nacional de reformas econômicas, lançado na última segunda-feira, afirma que 150 milhões de riyals (US$ 40 milhões) foram resguardados para preparar a implementação de taxas sobre estrangeiros, apesar de o ministro das Finanças, Ibrahim Alassaf não ter tomado nenhuma decisão ainda.

Mesmo assim, a possibilidade já causou preocupação em trabalhadores estrangeiros.

? Se impuseseem o imposto de renda para estrangeiros e não oferecessem nenhum benefício em retorno, como titularidade de residência e o direito de ter ativos sob meu nome, eu arrumaria as malas e sairia ? afirmou Ammr Baghdane, americano que trabalha como gerente em uma rede varejista.

Não há detalhes sobre a possível medida. Os estrangeiros ainda não sabem se o imposto alcançaria todas o níveis de renda e emprego, nem quanto tempo levaria para a implementação.

? Acho que depende da taxa que eles estão falando. Se for 5%, isso me incomodaria, mas não me faria deixar minha carreira aqui e me demitir. Se fosse 20%, então eu não ficaria, certamente ? disse um banqueiro britânico em Riad à Reuters sob condição de anonimato.

O colapso nos preços do petróleo desde meados de 2014 pressionam a Arábia Saudita a contemplar uma revisão radical de sua composição econômica, incluindo novas taxas, privatizações, mudança na estratégia de investimentos e duros cortes no gasto governamental.

? Se você quer aumentar as receitas sem ligação com o petróleo em quantidade significativa, eles precisam partir de uma combinação de tarifas e impostos indiretos. Eles não podem ficar sem alguma taxação sobre estrangeiros em algum momento ? afirmou John Sfakianakis, ex-consultor do governo e economista do Gulf Research Centre.

EMPREGOS

No entanto, a nova reforma saudita depende parcialmente do crescimento do setor privado, já fragilizado devido ao baixo gasto estatal e corte de subsídios energéticos, e que poderia enfraquecer ainda mais se os custos trabalhistas aumentarem.

? Teremos que alcançar o lucro líquido que eles teriam sem o imposto, então o peso da taxa recai sobre a companhia, não sobre o trabalhador estrangeiro ? afirmou Ahmed bin Afif, proprietário de uma empresa de comercialização de comida e commodities que emprega 500 empregados, dos quais metade é estrangeira.

O sentimento foi ecoado por outros empregadores.

? Isso criará custos e pressionará a inflação no país enquanto os trabalhadores exigirão maiores salários se o imposto foi implementado ? afirmou Ghaith Arnaout, dono de uma empresa de serviços de engenharia que tem 145 funcionários estrangeiros. ? Teremos de contratar locais para fazer o trabalho deles, mas isso significa gastar tempo e dinheiro com treinamento, o que prejudicará os negócios.

O governo busca incluir mais profissionais sauditas no setor privado ao invés de ocuparem postos bem pagos mas marginalmente produtivo para o governo ? algo que reformas trabalhistas desde 2011 tentam alcançar. Aumentar o custo de trabalhadores estrangeiros pela imposição do imposto de renda aumentaria a competitividade dos loais.

O ministro do Trabalho Mufrj al-Haqbani afirmou nesta terça-feira que o país não quer reduzir o número de estrangeiros no reino, que agora somam cerca de 9 milhões, afirmando que a presença deles é ?muito importante?.