Cotidiano

Antes do massacre de presos, MP já apontava crescimento das facções em Roraima

BRAZIL-PRISON_RIOTBOA VISTA ? Investigação feita pelo Ministério Público de Roraima (MPRR) em novembro, dois meses antes do massacre que culminou na morte de pelo menos 33 presos na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (PAMC), apontou que 90% dos presos de Roraima têm envolvimento com o crime organizado.

A apuração do MP foi realizada após a morte de 11 integrantes do Comando Vermelho (CV) na mesma unidade prisional, e mostrou que a facção carioca domina os presídios locais, ao lado do Primeiro Comando da Capital (PCC), originária de São Paulo .

Conforme o MP, dos 1,7 mil detentos do sistema prisional de Roraima, ao menos 1,4 mil têm ligações com facções criminosas, sendo 1.000 do PCC e 400, do CV. As investigações iniciaram em agosto de 2013 e, à época, apontaram que apenas 100 presos faziam parte do crime organizado. Em três anos, o crescimento de integrantes de facções foi de 1.400%.

Superlotada, com 700 vagas e mais de 1.400 presos, a Penitenciária Agrícola registrou, em outubro, a morte de 11 integrantes do Comando Vermelho. O crime foi cometido por membros do PCC.

A única solução encontrada pelo governo do estado para tentar evitar uma carnificina ainda maior foi dividir os presos por facções. Em novembro, cerca de 80 integrantes do Comando Vermelho foram transferidos da PAMC para a Cadeia Pública de Boa Vista, enquanto os integrantes do Primeiro Comando da Capital, que estavam presos na Cadeia Pública, foram remanejados para a PAMC.

FILIAL DO CRIME

De acordo com as investigações, a primeira a instalar ?filial? do crime organizado em Roraima foi o PCC. Conforme o MP, parte do dinheiro arrecadado pela organização criminosa com a prática de crimes dentro e fora dos presídios de Roraima era utilizada para a compra de armamento. O restante era enviado para a cúpula da organização, em São Paulo, intitulada de ?Chefia Geral ou Cidade Proibida?, a mais alta graduação de hierarquia da facção.

O MP destacou ainda a habilidade dos integrantes de organizações criminosas dos presídios na prática de crimes. Integrantes denominados de ?Geral da Rua?, por exemplo, são responsáveis pelo controle e disciplina dos membros que se encontram nas ruas. Esses, por sua vez, possuem a obrigação de praticar roubos e furtos fora dos presídios.

Conforme as investigações, por meio do dinheiro arrecadado com o crime organizado, a facção também oferece dinheiro e fornece advogados particulares e cestas básicas aos familiares dos presos. À época, em 2013, dois advogados foram denunciados por suposta associação ao crime organizado. O MP estima que ao menos cinco advogados atuem em favor de integrantes do PCC no Estado.