RIO – A Disney é reconhecida por produzir os tais “filmes para toda a família”, mas com o lançamento de “A Bela e a Fera”, a partir desta quinta-feira nos cinemas, a ala mais conservadora passou a questionar essa premissa. Tudo por causa da presença, na trama, de um personagem gay (veja o vídeo ao final do texto) ? algo que era para ser corriqueiro e comum, mas que infelizmente vem provocando polêmica.
A verdade é que, em intensidade maior ou menor, os produtos da Disney já vêm há algum tempo refletindo mudanças e demandas reais da sociedade, seja por meio do aumento da quantidade de personagens feministas, ou apostando em diversidade racial, para citar alguns exemplos.
Foi-se o tempo em que a clássica princesa da Disney tinha como principal objetivo de vida conquistar um príncipe. Hoje em dia, os interesses são outros. Com o avanço dos movimentos feministas ao redor do mundo, o estúdio finalmente entendeu: a felicidade de uma mulher não está necessariamente ligada à concretização matrimonial.
A nova princesa da Disney é guerreira, destemida e livre. Um dos casos mais emblemáticos foi “Frozen: uma aventura congelante” (2013), um epítome da reversão de expectativa. Na animação, Anna sofre uma maldição que a transformará numa estátua de gelo se não encontrar o amor verdadeiro. Quando todo mundo esperava o mocinho da trama trazer a salvação, a surpresa: o “amor verdadeiro” vem da irmã, a rainha Elsa. Quem disse que o afeto entre um homem e uma mulher é a única forma de amar?
Mas a tendência vem de antes. Em “Valente” (2012), feito em parceria com a Pixar, Merida é a princesa de cabelos flamejantes e volumosos que desafia a tradição para ser feliz do jeito que ela quer. E o grande amor da trama é entre mãe e filha. Nada de homem salvando o dia.
Mais recentemente, “Moana: um mar de aventuras” (2016), baseado na mitologia polinésia, trouxe outra brava heróina ? e tudo sem envolver um super romance. Moana, a protagonista, foge ao padrão perpetuado por Hollywood: ela não tem pele clara nem cabelos lisos. Aliás, “A princesa e o sapo” (2009) foi a primeira princesa negra da Disney.
Em tempos em que a sociedade pede cada vez mais diversidade étnica e representatividade nas telas, Hollywood virou alvo de várias acusações de “embranquecer” os filmes. Isso acontece quando atores brancos e americanos “roubam” papéis que em tese deveriam pertencer a pessoas de outras partes do mundo. É o caso de Scarlett Johansson em “Ghost in the shell”, Matt Damon em “A grande muralha” (por que não contrataram atores asiáticos, já que as histórias dos longas se passam no Japão e na China, respectivamente?) e Tilda Swinton em “Doutor Estranho”.
De olho nessa cobrança (que em nada tem a ver com “politicamente correto”, e sim com lógica básica), a Disney já anunciou que está à procura de atores do Oriente Médio para protagonizarem o remake de “Alladin”. Além disso, de surpresa, a empresa exibiu recentemente o primeiro beijo gay em um desenho.
São pequenos sinais de que o estúdio desafia cada vez mais a noção de “família tradicional” para, no lugar, servir de espelho fiel da realidade. Ainda falta avançar muito, mas, de passo em passo, a gente chega lá. ‘Gaston’ Clip – Disney’s Beauty and the Beast