BRASÍLIA ? Quatro meses após ser nomeado presidente da Comissão de Anistia, Almino Afonso, que foi ministro de João Goulart e cassado pela ditadura militar, decidiu deixar o cargo. No ano passado, ele foi convidado pessoalmente pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que foi à sua casa em São Paulo para chamá-lo para integrar o colegiado. Afonso disse ao GLOBO na manhã desta quinta-feira que seu gesto não significa qualquer protesto contra os trabalhos da comissão e argumentou que “interpretou mal” o grau de trabalho a ser desenvolvido. Ele entregou o cargo há um mês, mas reclamou que sua exoneração ainda não foi publicada no Diário Oficial.
? É muito trabalho a ser feito. Muito mais do que o previso no diálogo com o ministro. E se quiser levar a sério é preciso muita dedicação. São muitos processos ainda a serem julgados (de pedidos de anistia e reparação econômica) e isso me obrigaria a ir muitas vezes a Brasília (ele mora em São Paulo). E já não sou nenhuma criança, mas um jovenzinho de 87 anos ? disse Almino Afonso.
Hoje, há cerca de 9 mil pedidos de anistia para serem julgados. Ele contou ainda que tentou comunicar sua saída diretamente ao ministro Moraes, mas que não conseguiu. Então, conversou com o secretário-executivo da Pasta, José Levi do Amaral.
? Não falei com o ministro. É dificílimo de ser encontrado. E se mandar uma carta, não adianta. Não chega. Aproveite para perguntar a eles quando me demitem. É uma certa crítica que estou fazendo.
Nesse período, Almino Afonso participou apenas de uma reunião inicial da comissão entre o ministro com todos os conselheiros, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Mas ele não chegou a participar de nenhuma sessão de julgamento de processos.
Almino Afonso foi ministro do Trabalho de Jango e líder de seu governo na Câmara. Foi um dos muitos deputados que tiveram seus mandatos cassados pelo governo militar. No exílio, viveu na Iugoslávia, Uruguai, Chile, Peru e Argentina. De volta ao Brasil, integrou o MDB. Foi vice-governador de São Paulo, na chapa com Orestes Quércia. Nos anos 90, elegeu-se deputado federal pelo PSDB. Seu último partido foi o PSB.