Cotidiano

Aliado mais próximo de Cunha diz que não havia como resistir a ?tsunami de pressões?

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BRASÍLIA ? Um dos mais leais apoiadores de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) ? que vinha defendendo abertamente que o colega renunciasse ao cargo, o que Cunha anunciou nesta quinta-feira ?, contou ao GLOBO estar triste com o desfecho de sua passagem pela presidência da Casa, mas disse que era impossível resistir ao “tsunami de pressões” que o deputado afastado vinha sofrendo. Ele acredita, porém, que Cunha pode estar sendo alvo de uma “grande injustiça”. Marun se considera um “baluarte da oposição” e cita uma “conspiração” dos adversários de Cunha no Conselho de Ética para barrar o impeachment. Ele admite que há um desgaste pessoal pela defesa do amigo, mas diz que só se preocupa com o “travesseiro”.

Como se sente com a renúncia de um dos seus mais próximos aliados?

Sinto que essa renúncia, diante do quadro que se instala, é ao mesmo tempo uma necessidade e uma perda. Realmente não existiam mais condições, diante do contexto estabelecido, para o Eduardo Cunha presidir a Casa. Mas é uma perda. Presidente como ele não vai ser fácil de se achar. Então vejo sob esses dois aspectos.

Fica triste com esse desfecho?

Eu fico porque tenho medo de que exista nisso tudo uma grande injustiça. Eu tenho esse medo, então isso me entristece um pouco. Mas não tem como lutar contra isso, por isso defendia essa renúncia há um bom tempo. Não havia como resistir a esse tsunami de pressões que o deputado vinha recebendo. Mas tenho um pouco de medo que se esteja cometendo uma injustiça.

Tem um desgaste pessoal para o senhor?

Hoje deve existir, mas sinceramente isso não me preocupa. Eu me preocupo muito é com o meu travesseiro. E tenho a mais absoluta certeza, e tenho a certeza de que nenhuma das questões que coloquei ou considerações que fiz eu possa me arrepender. Não me arrependo de nenhuma, eu defendi o devido processo legal. Não tenho condições de avaliar a inocência do Cunha porque não conheço (os detalhes), mas sei que ele foi importante para o impeachment e sei que havia no Conselho de Ética uma conspiração que tentava retirá-lo da presidência o mais rápido possível para barrar o impeachment.

Eu fui um dos baluartes da oposição a essa conspiração, e se um dia for contada essa história do impeachment e alguém falar do meu papel, talvez ele tenha sido esse, talvez por isso eu tenha sido importante, por ter feito um trabalho que ajudou a garantir que o presidente Eduardo Cunha estivesse aqui à frente da Casa no dia 17 de abril para fazer com que o impeachment acontecesse.

É o fim de um ciclo?

Espero que não seja o fim de um ciclo de independência da Casa, de respeito ao papel dos parlamentares, espero que não seja o fim de um ciclo onde a Casa foi importante por si só, não por ser um braço do governo federal, seja qual governo for. Nem do governo do meu PMDB.

Ele demorou tempo demais pra renunciar?

Isso eu acho, talvez ele já devesse ter tomado essa decisão há mais tempo. Mas penso que pior seria se demorasse ainda mais.

Ele consegue, com esse gesto, escapar da cassação do mandato?

Não sei, não tenho condições de avaliar isso.