BERLIM – Três dias depois do atentado a um dos principais mercados de Natal de Berlim, a Alemanha procura voltar à normalidade. O local invadido por um caminhão ? que matou 12 pessoas e deixou 48 feridos ? foi reaberto. E o comércio na região, no bairro Charlottenburg-Wilmersdorf, principal centro comercial da capital alemã, voltou a ficar lotado. Mas, apesar de uma aparente retomada da rotina, todo o país se pergunta: como um islamista classificado oficialmente como perigoso, fichado na polícia, pôde praticar o ataque? Entre as principais críticas, os alemães questionam por que a carreta não foi examinada imediatamente. A perícia só veio a descobrir na manhã de terça-feira, dia seguinte ao ataque, o documento do tunisiano Anis Amri, de 24 anos, que, então, tornou-se o principal suspeito. BERLIM
? As informações que temos são chocantes ? afirmou Armin Laschet, vice-presidente da União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler federal Angela Merkel, ao comentar as falhas. ? Não é desta maneira que vamos garantir a segurança da Alemanha.
Aos poucos vêm sendo revelados os detalhes da investigação, que cada vez mais chocam o país. Em julho passado, Amri foi preso na cidade de Friedrichshafen e deveria ter ficado na prisão aguardando a deportação. Mas foi libertado no dia seguinte por ordem do Departamento dos Refugiados da cidade de Kleve, na Renânia, a primeira residência dele na Alemanha, quando chegou, vindo da Itália, em julho do ano passado.
A exemplo do jihadista que, no final de julho, explodiu uma bomba suicida na entrada de uma discoteca na cidade de Ansbach, no Sul da Alemanha, Amri também tinha um status de ?tolerado? concedido pelas autoridades alemães, após o pedido de asilo político ter sido recusado.
No país, 160 mil com asilo negado
Atualmente, 160 mil pessoas que deveriam ter sido deportadas após ter o requerimento negado, não o foram por motivos humanitários ou questões burocráticas.
? Precisamos diferenciar os candidatos à deportação. Muitos não podem ser deportados porque correriam risco de vida nos seus países de origem ? enfatizou o diretor do Sindicato dos Policiais, Rainer Wendt. ? A polícia falha porque quer trabalhar de acordo com a lei.
A lei alemã não permite a deportação de alguém sem documentos válidos. É sabido que muitos imigrantes jogam fora as identidades. Como entraram na Alemanha quando a fronteira estava aberta, sem mostrar passaporte, as autoridades têm dificuldade em descobrir até os países de origem. Para o chefe do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) em Berlim, o ex-general Georg Pazderski, também ex-integrante da cúpula militar da Otan, as autoridades se comportaram com ingenuidade, na ?esperança de que nada acontecesse?.
? Os planos de Amri, que já tinha praticado delitos na Itália, eram conhecidos. Mas ninguém fez nada para impedi-lo.
Amri aprendeu a dirigir caminhão e planejou o atentado praticamente debaixo do nariz das autoridades. Na sua página no Facebook, só apagada na quarta-feira, ele mostrava com orgulho o seu mundo extremista. No último post, de agosto de 2015, posa como jihadista. Mas o diretor do Sindicato dos Policiais defende as autoridades:
? Nós só podemos fazer o que a lei permite. A burocracia, muitas vezes, dificulta o trabalho ? ressaltou Wendt.
Na quinta-feira, mais de cem agentes participaram de uma batida no centro de refugiados de Emmerich, no Oeste do país, onde Amri viveu por alguns meses. Foram efetuadas buscas também no bairro berlinense de Prenzlauer Berg. Segundo o especialista em jihadismo Bruno Schirra, a polícia estaria seguindo a direção errada também nessas buscas.
? Se a polícia procurasse nas cerca de 40 mesquitas de fundo de quintal espalhadas em Berlim, onde os salafistas costumam se encontrar, teria uma grande surpresa. O coautor dos atentados de Paris, Abdelhamid Abaaoud, foi procurado em lugares distantes e, para surpresa geral, foi encontrado em Bruxelas, onde morava e pôde se esconder na casa de jihadistas.
Pazderski também fez severas críticas a Merkel, afirmando que ela ?não pode fugir da sua corresponsabilidade pelo ataque?:
? Se tivesse havido controle na fronteira, o tunisiano não teria conseguido entrar na Alemanha.
Segundo o político do AfD, Merkel vai ter que responder também pelo caos da falta de coordenação entre as autoridades.
Berlim termina 2016 em clima de medo. Armado e altamente perigoso, o suposto jihadista ainda está foragido.
? Não posso acreditar que tenha cometido o crime. Se é culpado, merece o castigo. Peço que se entregue ? afirmou seu irmão, Abdelkader Amri. Irmão de tunisiano suspeito de ataque em Berlim pede que ele se entregue