Em conversa com Joesley Batista, dono da JBS e delator, o senador Aécio Neves afirmou que conseguiu nomear o presidente da Vale "manipulando, inclusive, o processo seletivo determinado pela governança da Vale, o qual deveria de forma independente buscar nome do mercado". A informação está no anexo número 10 de Josley, sobre Aécio Neves.
O empresário relata que a irmã do senador, Andrea Neves, o procurou e sugeriu que precisava de R$ 40 milhões. Em conversa que gravou com o tucano, Joesley disse que se Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e do BNDES, fosse nomeado para assumir a presidência da estatal, ele aceitaria pagar a propina de R$ 40 milhões.
"Aí ele falou, não pode porque eu já nomeei", relatou Joesley em depoimento em vídeo aos procuradores. "Parece que a Vale tem uma governança pra ter uma independência pra escolher presidente, mas parece que eles têm algum jeito de fraudar esse troço e virar presidente alguém com nomeação política", emendou.
"Ele me explicou isso, disse 'nós fizemos um treco lá que em tese é independente, mas na prática o candidato da gente acaba ganhando".
"Ele disse que eu poderia escolher qualquer uma das quatro diretorias, que eu escolhesse e que ele botava quem eu quisesse, se fosse o Dida [apelido de Bendine] ele botava o Dida", disse Joesley.
A conversa em que Aécio faz a revelação à Joesley foi gravada pelo delator em 24 de março deste ano. Três dias depois, Fabio Schvartsman foi anunciado o novo presidente da Vale.
OUTRO LADO
O Conselho de Administração da Vale afirmou, em nota enviada à imprensa no final da tarde desta sexta-feira (19), que a escolha dos membros da diretoria executiva da empresa são escolhidos "a salvo de qualquer interferência externa e foi conduzido em conformidade com as melhores práticas de mercado".
Segundo declarou a companhia, a contratação de Fabio Schvartsman ocorreu respeitando essa condutado, "seguindo os ritos e a governança da companhia". "No processo de escolha, o Conselho estabeleceu uma comissão formada por representantes de seus principais acionistas controladores, que ficou responsável pela condução do processo de identificação e escolha do novo executivo."
"Em todo o processo, a referida comissão e o próprio Conselho de Administração foram assessorados pela empresa Spencer Stuart, especializada no recrutamento de executivos com larga experiência e reconhecimento globais, que presta serviços há mais de 12 anos para a Vale", acrescentou a nota.
De acordo com a empresa, na última reunião do Conselho de Administração, em 11 de maio, foram renovados os mandatos de quase todos os executivos, à exceção de Humberto Freitas, que, "por decisão pessoal, optou por deixar a companhia no fim de seu mandato, previsto para o próximo dia 25, sem a admissão de qualquer outro diretor".
A Vale declarou ainda que "reafirma o seu compromisso com a ética, a transparência e a eficiência de gestão voltadas para atender os interesses dos seus acionistas, colaboradores, fornecedores, clientes e as comunidades onde atua".