SÃO PAULO – Os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificaram a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) como uma peça política. Cristiano Zanin Martins disse, nesta quarta-feira, que os procuradores da Lava-Jato não apresentaram provas dos crimes que atribuíram a Lula e seus familiares: o recebimento de reformas em um apartamento no Guarujá e o armazenamento do acervo presidencial que teriam sido pagos pela construtora OAS em troca de contratos com o poder público.
– O crime de Lula para a Lava-Jato é ter sido presidente eleito democraticamente duas vezes – disse Zanin, durante coletiva de imprensa. – Um novo país nasceu hoje sob a batuta de Deltan Dallagnol (procurador do MPF) e, neste país, ser amigo e ter aliados políticos é crime.
O advogado de Lula criticou a coletiva de mais de uma hora de duração feita pelos procuradores. Na sua opinião, isso fere o princípio constitucional presunção de inocência. Ele classificou a narrativa feita também nesta terça-feira por Dallagnol como ?discurso farsesco?, ?mentirosa?, ?incompatível com a realidade? e com as provas levantadas pela defesa. Os indícios levantados pelo MPF são, para Zanin, “hipóteses e ilações com o objetivo de acusar Lula e sua família”.
O advogado relatou que a ex-primeira-dama Marisa Leticia Lula da Silva comprou uma cota que daria direito a um apartamento que seria construído no Guarujá pela Bancoop. Em 2009, a Bancoop transferiu o empreendimento para a OAS com o aval do Ministério Público Estadual. Nesta data, os cotistas poderiam resgatar o investimento ou adquirir um apartamento. Marisa optou por cessar os pagamentos. Ainda segundo Zanin, Lula visitou o tríplex a convite da OAS com sua família uma vez. Marisa e o filho do casal, Fábio, estiveram no lugar outra vez. A família Lula da Silva não quis comprar o tríplex e pediu a devolução do valor investido na cota entre 2005 e 2009.
Como a OAS não pagou, Marisa entrou com um processo pedindo o ressarcimento. O advogado mostrou documentos e declarações de imposto de renda que corroboram sua versão.
– Em nenhum momento esse imóvel foi de propriedade de Lula ou de sua família.
Zanin também afirmou que o MPF não apresentou nenhuma prova de que Lula atuou de forma criminosa no armazenamento de itens que acumulou enquanto ocupou a Presidência da República.
O advogado criticou agentes da Polícia Federal e do Judiciário. Segundo ele, o delegado responsável pelo indiciamento de Lula, Márcio Anselmo, não deu oportunidade para a defesa se pronunciar na fase de investigação, além de se manifestar contra o ex-presidente nas redes sociais. Ao comentar sobre o juiz Sérgio Moro, que será o responsável por avaliar se aceita a denúncia feita pelo MPF, afirmou que aguarda o julgamento de uma ação na qual diz que o juiz perdeu sua imparcialidade no processo.
– Ainda tenho expectativa de que prevaleça a razão e o Direito. Mas o histórico mostra que há um cenário de perseguição. A Lava-Jato elegeu Lula autor de um crime, mas até agora não achou as provas.