Cascavel – Falta de efetivo, viaturas sucateadas, estruturas prediais em estado deplorável. Uma lista de problemas, que não param por aí, faz parte do dia a dia da Polícia Civil no Paraná que, sem investimento maciço nos últimos anos, está engessada e com acúmulo de serviço que prejudica a investigação, considerada essencial para o combate à criminalidade, que é a busca, a condenação e a prisão dos bandidos.
Prova do caos são os 13 casos de explosões e tentativas de explosões em caixas eletrônicos apenas neste início de ano no Estado relatados pela imprensa. Segundo a Sesp (Secretaria de Segurança Pública), foram 26 casos registrados de janeiro a março de 2018 no Estado.
Casos em que a polícia mal consegue investigar, assim como acontecem com furtos e roubos, que estão crescendo, mas que não aparecem nos dados oficiais, denuncia a Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Paraná).
“Estamos com um índice de criminalidade inaceitável no Paraná. Algumas cidades do Estado nem têm mais caixas eletrônicos porque os bandidos explodiram tudo. Em Curitiba, na última segunda-feira, foi presa uma quadrilha que assaltava farmácias. São diversos crimes e os dados são maquiados. E o que fomenta essa criminalidade é a falta de investimento na segurança pública. Principalmente na polícia investigativa”, afirma o presidente da Adepol, Daniel Prestes Fagundes.
Outra realidade
De acordo com relatório online da Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública), a quantidade de furtos diminuiu 0,28% em 2017 com relação a 2016. Já na região de fronteira – Cascavel e Foz do Iguaçu – houve aumento. Em Foz, de 10%. Em Cascavel, de 0,87%. Segundo a Sesp, o número de roubos diminuiu em 12,6% no geral. Quanto a furto de veículos, em Foz houve aumento de 14,2% e, em Cascavel, de 0,55%. Mas se considerados todos os municípios, houve queda: 5,1%.
Sesp diz ainda que, com relação a casos envolvendo explosão de caixas e roubo a banco, 2017 teve 50 casos e fechou com redução de 61,8% se comparado com 2016, ano em que foram 131. A Sesp afirma que o índice de roubo a bancos também reduziu: 30% em todo o Estado: 26 registros em 2016 e 18 em 2017. “Desde 2015, a Sesp criou uma força-tarefa composta por equipes de forças especiais de elite das Polícias Militar e Civil, além do apoio da Polícia Científica no trabalho de perícia. Mais de 200 criminosos foram presos e diversas quadrilhas desarticuladas”, acrescenta, em nota.
Números contestados
Os números oficiais são contestados pela Adepol, que assegura: não condizem com a realidade do paranaense, que ou já foi vítima de um assalto ou conhece alguém que foi.
A continuidade dos crimes e a falta de investimento da Polícia Civil geram o acúmulo de serviço. Em todo o Paraná existem 392 delegados de polícia, para atender a 399 municípios. Com os 20 novos delegados – que serão nomeados hoje e que ainda precisam passar pela escola de formação – esse número sobe para 412. Mas ainda abaixo da necessidade: ao menos 780 titulares.
“Em 2012, o governador Beto Richa nos sinalizou positivamente, criando uma lei que aumentava de 420 cargos de delegados de polícia para 780. Quando veio essa lei, entendemos como sinal de que haveria contratações. Porém, não foi isso o que aconteceu. E, se naquele ano já havia déficit, imagine agora, considerando que temos apenas 392 profissionais, número já menor do que os 420 de antes da mudança da lei”.
Comarcas vazias
Dos 280 municípios do Paraná que são sedes de comarca, 18 não têm delegado de polícia. A 15ª SDP (Subdivisão Policial de Cascavel), por exemplo, o delegado-adjunto Rodrigo Baptista assumiu como delegado-chefe, e o atual adjunto Roberson Salgado acumula a Comarca de Corbélia. A vaga aberta com a saída de Adriano Chohfi no início do ano ainda não foi preenchida.
Aliás, muitos chefes de comarcas e adjuntos acumulam funções em outras cidades. “O delegado que é regional fica a vida toda de plantão, de domingo a domingo. A primeira parte investigatória é do delegado de polícia. Só haverá parte judicial se tiver a fase investigativa. E em um estado como o Paraná não ter nem 420 delegados é porque há algo muito errado. Os profissionais estão trabalhando sobrecarregados demais”, alerta.
Além do acúmulo de função, não há incentivo: “O governo não prevê o acúmulo de delegacias e não ganhamos a mais por isso, o que também ocorre com as horas extras. Esse mesmo governo cede aumento para o Poder Judiciário por acúmulo de comarca, então por que isso não é estendido para um delegado de polícia?”, questiona.
Sem polícia, político não é investigado
São quatro carreiras na Polícia Civil: delegado de polícia, investigador, escrivão e papiloscopista. Nenhum quadro está completo no Paraná. No caso dos investigadores, são 2.710 em todo o Estado, 677 escrivães e 288 papiloscopistas. Cada uma das carreiras trabalha com metade – ou até menos – do efetivo estabelecido por lei. E aí vem a sobrecarga de trabalho. A média, de acordo com a Adepol, é de 2 mil inquéritos por escrivão. “A criminalidade aumenta à medida que o Estado não investe na polícia, não compra e não adquire os meios adequados. Agora, por que o governo faz isso não conseguimos entender. Não sabemos se o próprio político está envolvido com criminalidade e não quer que se investigue. Por exemplo, a PF [Polícia Federal] teve um grande investimento durante o Governo Lula, e foi a própria Polícia Federal que começou a Operação Lava-Jato. Imaginamos que os políticos não querem que o restante da polícia siga essa mesma linha”, opina.
Polícia vira babá de preso
Além da falta de efetivo, parte dos policiais é retirada das ruas para custodiar presos, coisa que não é de responsabilidade da Polícia Civil. “Dos 30 mil presos do Paraná, 11 mil ainda estão nas delegacias. Em 2014, o governador Beto Richa anunciou 14 novas unidades penitenciárias e até agora não concluiu nenhuma. Com isso, a investigação fica muito prejudicada e, sem investigação, não há condenação. Sem condenação, há impunidade. Só o trabalho da Polícia Militar não resolve. Inibe, claro, mas é uma falsa sensação de segurança. É preciso investir na polícia investigativa. O governo engessou a Polícia Civil. A gestão Beto Richa é uma gestão fraca em segurança pública. Não aumentou nem uma vaga para preso e o número de detentos está crescendo muito. Mesmo com efetivo escasso, a polícia faz um bom trabalho. Então, imagine como seria melhor se estivesse equipada e sem preso para cuidar”, acrescenta o presidente da Adepol, Daniel Fagundes.
Estruturas prediais
Além da falta de efetivo e da custódia de presos, outro problema da Polícia Civil está nas estruturas prediais, antigas, muitas da década de 50. Sem contar as viaturas, que estão sucateadas. “Rodamos com viaturas com 400 mil quilômetros rodados, o que é um absurdo. O governo licita sempre a mais barata, a pior. E para fazer manutenção, temos uma empresa fraudulenta que cobra duas, três vezes mais por um conserto que nem mesmo o fez”, dispara o presidente da Adepol, Daniel Prestes.