Cotidiano

?A vontade de paz salvou a negociação nos piores momentos?, diz Marisol Gómez

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BUENOS AIRES ? O acordo de paz entre o governo Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) esteve várias vezes em risco e não teria sido possível sem a participação, no início, do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Essas são duas das principais revelações do livro ?A história secreta do processo de paz?, escrito pela jornalista Marisol Gómez, do jornal ?El Tiempo?, que chegará às livrarias colombianas na segunda-feira, um dia depois do plebiscito. ?O silêncio até agora foi um compromisso que assumi com os entrevistados?, disse ao GLOBO.

Por que o livro só começará a ser vendido na segunda-feira?

O livro é a história secreta do processo de paz e só será publicado, por um compromisso que assumi com os entrevistados, depois do plebiscito.

O livro poderia mudar votos?

(Risos.) Bom, contamos todas as dificuldades da negociação. Fiz um pacto e devemos respeitá-lo. Falei com os principais protagonistas, é um livro jornalístico, no qual percorro os momentos mais significativos do processo.

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O acordo esteve em risco?

Houve momentos de muita tensão. Com toda a informação que acumulei durante quatro anos, me atrevo a dizer que foi o desejo de paz do presidente Santos e de Timochenko que possibilitou a negociação nos períodos mais duros. No momento em que Santos decide negociar com as Farc, está totalmente convencido de que esse era o caminho. E essa foi a mesma posição da guerrilha. A vontade de paz salvou a negociação nos piores momentos.

O papel de Chávez foi crucial?

Sim, foi fundamental. Isso não sou eu que digo, mas Santos e os líderes das Farc. Chávez foi determinante para que a negociação começasse. Ele morreu muito cedo, em termos da negociação, mas quando isso aconteceu, Timochenko já estava convencido. Ele conta no livro que muitas vezes teve dúvidas, que não confiava em Santos. E foi Chávez quem lhe disse que avançasse e lhe deu segurança.

Essa é uma das novidades do livro…

Sim, porque sabíamos que Chávez tinha ajudado. Mas, no livro, Santos conta detalhes, como foram os momentos exatos em que isso aconteceu e como aconteceu. As menções de Timochenko a Chávez são permanentes e até mesmo no dia da assinatura do acordo, em Cartagena, ele disse que não se teria chegado a este final sem o presidente venezuelano.

Sempre se falou muito sobre o relacionamento entre Chávez e as Farc…

Sim, era um relacionamento intenso e profundo. As Farc encontraram em Chávez um interlocutor, e ele aproveitou isso para ajudar a iniciar a negociação. Santos entendeu que uma negociação com as Farc devia incluir Chávez.

O que foi mais difícil de digerir do acordo para as Farc?

Primeiro, Timochenko sentia uma profunda desconfiança em relação a Santos. Em segundo, para as Farc foi muito difícil conviver com a oposição ao acordo, que levou Santos a reiterar que estava combatendo as Farc como se não houvesse negociação em Havana, e negociando como se não houvesse batalhas na Colômbia. Essa reiteração criava incerteza. Para a guerrilha também era complicado aceitar que seus membros fossem julgados por crimes de lesa-Humanidade. Eles sempre sustentaram que ao ser uma guerrilha de origem política deviam ser anistiados. Mas entenderam que a Corte Penal Internacional não permitiria uma anistia total.

Para Santos o que foi mais difícil?

Também foi em relação à Justiça. O presidente sempre pensou que as Farc deviam pagar com a prisão, porque na Colômbia, até o final da negociação, mais de 80% pediam isso. Santos pensou em trocar balas por votos, mas pediu que aceitassem um tempo de reclusão, e nisso foi obrigado a ceder.

Neste plebiscito está em jogo a liderança política de Santos e Uribe, além da paz?

Claro que em toda a votação se disputam lideranças políticas. Mas acho que, neste caso, o ex-presidente Uribe manipulou o processo e conseguiu que muitos, sobretudo os menos informados, achassem que a disputa é entre ele e Santos. Foi o aspecto mais negativo da campanha. Realmente o que está em jogo é a paz com as Farc. Uma vitória do ?não? significaria a perda de quatro anos de esforço, de muitas dificuldades. Nada foi fácil.