Cotidiano

A festa alheia: Halloween

Não é dia do índio, Nossa Senhora dos Navegantes nem Padre Cícero. É o Haloween, uma comemoração tipicamente norte-americana, uma das celebrações mais esperada pelas crianças brasileiras de uns anos para cá. Até a típica frase “travessuras ou gostosuras”  ganhou força entre elas que se divertem em meio a balas e chocolates. A festa emprestada faz as mães correrem atrás da fantasia de bruxa, abóbora, vampiro e esqueleto, mas que não raro definem dia antes que seu filho vai vestido de batmam, de super homem, de homem de ferro, qualquer dessas fantasias que ganhou da avó do Natal. Afinal, não dá pra fazer tudo ao mesmo tempo.

Se pararmos alguns instantes, a primeira festa mais esperada pelas crianças, o Natal, também não nasceu no clima brasileiro. O bom velhinho aparece com roupas de inverno, botas e gorro inclusive. Não bastasse, renas e até neve falsa ornamentam nossas árvores tupiniquins, palmeiras que se quer têm onde pendurar aquelas bolas, bengalas e bonecos de neve à moda Frozen. E presentes, presentes, presentes e mais presentes, um consumismo desenfreado que leva o décimo terceiro, as férias e até o salario de janeiro, uma relação com o consumo que não conseguimos acompanhar.

Deveriam nossas crianças ter o mesmo apreço, o mesmo gosto de celebrar àquilo que é brasileiro. Nada contra em festejar datas alheias, mas bem que os marqueteiros de plantão podiam começar a vender uma realidade mais tropical disso tudo intensificando as datas que realmente têm alguma coisa a ver com o Brasil. Tá certo que o dia do índio é no outono, o que não ajuda muito em questão de vestuário, mas estimular as turmas escolares a plantar uma árvore, em parceria com a prefeitura, no dia dela ou é uma forma de cultuar nossas matas e a necessária preocupação com o meio ambiente, algo mais saudável do que encher a boca de doces. E lá vamos nós com os pequenos ao dentista. E meses depois, ao banco, porque haja dinheiro para tanta festa e o Natal está ali adiante, e as vitrines já começaram a desempenhar o seu papel. Janeiro tem o dia do Fico, fevereiro desponta Yemanjá e março chega com o dia das Águas, mas a criançada quase nada sabe sobre isso, e nem quer saber. O que importa é usar a fantasia do Haloween no Carnaval que, acredite, também não teve origem no Brasil, local onde encontrou solo fértil já que brasileiro adora um festerê, predisposição que, com um pouco de organização e incentivo, vai nos unir em torno de nossa identidade e de nossas verdadeiras origens.      

Vivian Weiand